Qual abutres entusiasmam-se com o cheiro mortífero da guerra. Qual papagaios repetem em dezenas de línguas que é preciso morrer pela Europa. Os militaristas europeus não podiam estar mais satisfeitos.
Os povos da Europa estão à mercê das potências que a disputam e repartem. Com a invasão da Ucrânia, a Rússia de Putin ameaça toda a vizinhança. Tem saudades confessas do império dos czares e insulta a autodeterminação dos povos. O perigo é real.
Do lado poente, Biden e os EUA parece que ganharam a lotaria. A NATO andava de farsa em farsa a reinventar razões para a sua existência. Agora encontrou na sombra da invasão russa o melhor cobrador do fraque dos investimentos militares europeus e da submissão ao Tio Sam.
Pelo meio estamos nós, a classe trabalhadora e os povos que precisam de uma outra Europa para viver. A nossa segurança e a nossa liberdade precisam de um espaço de paz e desenvolvimento, com padrões elevados de direitos do trabalho, com justiça social e climática. Reivindicar essa Europa para viver exige quer a expulsão dos imperialismos externos, quer o desmantelamento dos aparelhos imperialistas internos e semi-internos.
Não nos enganamos. O desenho liberal e imperialista do Mercado Europeu aumenta a desigualdade entre países, sangra os direitos sociais das nossas democracias e é ferramenta de neocolonialismo dentro e fora do continente. Ao mesmo tempo, o arame-farpado da Europa Fortaleza é o outro nome da sobre-exploração de imigrantes clandestinos e da cova de refugiados em que se tornou o Mediterrâneo.
Precisamos de outro horizonte. Um projeto para a transformação social e ecológica dos nossos países beneficiará de um espaço real de alianças internacionais na nossa vizinhança. Partidos de esquerda, sindicatos, movimentos feministas, ecologistas e pelos direitos humanos podem apontar o caminho para essa Europa da Cooperação e da Solidariedade. Essa bandeira política precisa de ganhar forma, de ganhar movimento.