António Costa, eleito há 30 dias com uma maioria quase Stalinista (como todos os últimos dirigentes deste partido), tem andado numa maré de opiniões sobre alianças que vão da direita á esquerda.
Em 30 dias, dedicou 15 a alianças para a criação do Bloco Central, 15 sobre alianças com recentes grupos de esquerda que se multiplicaram com a apetência destes convites, ficando pelo meio os apelos envergonhados para uma maioria absoluta.
Quanto a ideias, a postura de Costa é curiosa, quer menos austeridade, mas mantém a ligação ao tratado orçamental e nem quer ouvir falar em renegociação da divida, (mas também aqui tem dias).
No que diz respeito aos trabalhadores, ainda não lhe ouvimos uma palavra sobre os direitos retirados, salários e reformas roubados, tabelas de IRS que são um autêntico assalto, a segurança social e a manutenção da mesma na esfera pública, as nacionalizações (tem dias em que é contra nacionalizações totais), mas não tem nenhum dia em que seja contra as nacionalizações como principio.
Tem dias em que em consonância com o CDS, promete repor os feriados (mas só dois), tem dias em que lê o memorando de entendimento com a Troika debaixo para cima e outros de cima para baixo, mas não teve até agora nenhum dia em que critique o memorando.
António Costa, ao dizer tudo e o seu contrário, quer o voto da esquerda política sem assumir compromissos, e assim ficar de mãos livres para continuar a ser alternância sem ser alternativa.
Algumas intelectuais de esquerda estão a alinhar neste assumir de compromisso nenhum de Costa e a pulverizar a esquerda como se isso fosse a solução dos nossos enormes problemas.
Na esquerda, há lugar para todos os que queiram defender o que resta de Abril e reconquistar muito do que já nos foi roubado com os governos da direita ao centro direita. A esquerda é a alternativa às políticas neoliberais no sentido mais retrógrado da palavra. Acreditar naquilo que Costa não diz, (já que não podemos acreditar no que diz pelas contradições que revela), é acreditar na reencarnação dos PECs, como solução para os problemas do país.
A esquerda e os homens e mulheres de esquerda, os trabalhadores, os reformados e os desempregados, têm que construir uma real alternativa e recusar alternâncias disfarçadas.
A esquerda portuguesa está condenada a entender-se para executar políticas de esquerda com ou sem PS, ou nos próximos anos teremos uma italianização da mesma em Portugal.