PS 30 dias de António Costa

porAntónio Chora

23 de dezembro 2014 - 23:08
PARTILHAR

António Costa, ao dizer tudo e o seu contrário, quer o voto da esquerda política sem assumir compromissos, e assim ficar de mãos livres para continuar a ser alternância sem ser alternativa.

António Costa, eleito há 30 dias com uma maioria quase Stalinista (como todos os últimos dirigentes deste partido), tem andado numa maré de opiniões sobre alianças que vão da direita á esquerda.

Em 30 dias, dedicou 15 a alianças para a criação do Bloco Central, 15 sobre alianças com recentes grupos de esquerda que se multiplicaram com a apetência destes convites, ficando pelo meio os apelos envergonhados para uma maioria absoluta.

Quanto a ideias, a postura de Costa é curiosa, quer menos austeridade, mas mantém a ligação ao tratado orçamental e nem quer ouvir falar em renegociação da divida, (mas também aqui tem dias).

No que diz respeito aos trabalhadores, ainda não lhe ouvimos uma palavra sobre os direitos retirados, salários e reformas roubados, tabelas de IRS que são um autêntico assalto, a segurança social e a manutenção da mesma na esfera pública, as nacionalizações (tem dias em que é contra nacionalizações totais), mas não tem nenhum dia em que seja contra as nacionalizações como principio.

Tem dias em que em consonância com o CDS, promete repor os feriados (mas só dois), tem dias em que lê o memorando de entendimento com a Troika debaixo para cima e outros de cima para baixo, mas não teve até agora nenhum dia em que critique o memorando.

António Costa, ao dizer tudo e o seu contrário, quer o voto da esquerda política sem assumir compromissos, e assim ficar de mãos livres para continuar a ser alternância sem ser alternativa.

Algumas intelectuais de esquerda estão a alinhar neste assumir de compromisso nenhum de Costa e a pulverizar a esquerda como se isso fosse a solução dos nossos enormes problemas.

Na esquerda, há lugar para todos os que queiram defender o que resta de Abril e reconquistar muito do que já nos foi roubado com os governos da direita ao centro direita. A esquerda é a alternativa às políticas neoliberais no sentido mais retrógrado da palavra. Acreditar naquilo que Costa não diz, (já que não podemos acreditar no que diz pelas contradições que revela), é acreditar na reencarnação dos PECs, como solução para os problemas do país.

A esquerda e os homens e mulheres de esquerda, os trabalhadores, os reformados e os desempregados, têm que construir uma real alternativa e recusar alternâncias disfarçadas.

A esquerda portuguesa está condenada a entender-se para executar políticas de esquerda com ou sem PS, ou nos próximos anos teremos uma italianização da mesma em Portugal.

António Chora
Sobre o/a autor(a)

António Chora

Dirigente do Bloco de Esquerda. Coordenador da CT da Volkswagen AutoEuropa. Deputado municipal no concelho da Moita.
Termos relacionados: