A propaganda que ruiu

porAntónio Lima

24 de agosto 2023 - 23:37
PARTILHAR

Bolieiro afirmou em março de 2021 que iria reduzir “progressivamente o seu subfinanciamento crónico” da saúde. Pouco mais de dois anos depois o subfinanciamento continua, e em força para prejuízo de quem precisa de um SRS que garanta o melhor acesso à saúde!

A informação divulgada pelos governos é sempre ouvida com atenção. Afinal os governos normalmente detêm os dados mais recentes e oficiais. Mas essa “informação” que os governos transmitem passa a ser mera propaganda com fins de luta política quando não é pública e escrutinável pela oposição e pela opinião pública em geral.

Durante quase toda legislatura o governo regional de direita usou e abusou da informação que detém sobre o funcionamento do Serviço Regional de Saúde (SRS) para fazer uma campanha de propaganda não sustentada em dados.

Dia após dia o governo debitou números, anúncios de recordes atrás de recordes na atividade na saúde.

Acabaria o subfinanciamento na saúde. Dizia o então secretário da saúde, em abril de 2021: “o subfinanciamento da Saúde que levou a situações indignas na relação da Região com os seus fornecedores e que criou uma dívida de cerca de 150ME que este Governo irá pagar nesta legislatura”.

Bolieiro afirmou em março de 2021 que iria reduzir “progressivamente o seu subfinanciamento crónico” da saúde.

Pouco mais de dois anos depois o subfinanciamento continua, e em força para prejuízo de quem precisa de um SRS que garanta o melhor acesso à saúde! Os hospitais tiveram prejuízos de 27ME em 2022 e no primeiro trimestre de 2023 o prejuízo atinge quase 12ME. Se isso não é subfinanciamento, não sei o que será.

Mas a propaganda do governo regional tem sido também sobre os resultados. Ainda em fevereiro deste ano o governo anunciava que “em 2021 bateram-se todos os recordes” na área da saúde. Isto, claro está, sem mostrar um único documento oficial que suportasse essa afirmação bombástica.

Mas os documentos existem e revelam que o governo vive numa realidade paralela que os seus próprios documentos não suportam.

Os últimos dados, agregados, relativos à atividade clínica das Unidades de Saúde de Ilha (USI), constam do relatório “Indicadores de Saúde 2016-2021” publicado na página web da Direção Regional de Saúde (DRS).

Os números constantes desse relatório da DRS desmentem o governo! Em 2021, último ano para o qual existem dados publicados, realizaram-se menos 50 mil consultas médicas nas USIs, por comparação com 2019; Em 2021, houve menos 40 mil atendimentos urgentes realizados em 2021, por comparação com 2019. O único recorde que se terá batido em 2021 será o da maior redução de atividade de sempre nas USIs. Certamente que o governo sabia disso, mas preferiu difundir propaganda enganosa para seu benefício político.

Nos hospitais, mais precisamente no HDES, percebe-se que a produção cirúrgica está cada vez mais dependente da produção acrescida, através do programa CIRURGE. Ao mesmo tempo que esta aumenta, diminui a atividade cirúrgica normal, o que significa uma redução da capacidade de resposta do HDES e uma maior dependência da produção acrescida, muito mais cara. Isto segundo os próprios números da famosa newsletter do HDES, fonte permanente de propaganda da anterior administração.

Com o governo de direita, não se resolveu nenhum problema de fundo do SRS. Apenas se construiu um castelo de propaganda. E como qualquer propaganda, quando não tem sustentação na realidade, cai como um castelo de cartas.

António Lima
Sobre o/a autor(a)

António Lima

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
Termos relacionados: