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Privatizar o Governo para evitar o despedimento coletivo
Ligar uma lâmpada, enviar uma carta, pagar um seguro, entrar num aeroporto, depositar o lixo. O circuito quotidiano das tarefas mais triviais dificilmente escapa ao mundo novo que habitamos, onde os éditos se atropelam com a mesma e insistente ordem: privatize-se. Depois da EDP, REN, CTT, Caixa Seguros, ANA, EGF e outras tantas empresas públicas, Passos lança-se na segunda campanha pela privatização da TAP. Não é caso para menos, faltando 10 meses para as eleições legislativas, sobem os níveis de adrenalina nos gabinetes ministeriais.
No passado, as privatizações eram apresentadas no contexto de uma certa festividade histórica - "Por cada empresa que privatizo, abro uma garrafa de champanhe", afirmava José Penedos (Secretario de Estado de Guterres), enquanto Cavaco fazia alarde sobre a manutenção dos "centros de decisão nacionais", celebrando a nova e emergente burguesia que na verdade crescia débil e parasitária do Estado. Hoje, pelo contrário, as privatizações são apresentadas como um fardo, uma consequência da bancarrota iminente, uma triste inevitabilidade. O aviso de Passos sobre a TAP, feito como quem entrega um embrulho, é de um autoritarismo próprio deste tempo: ou a privatização ou o despedimento coletivo.
Há quem apalpe nesta pressa o receio político do PS renegar o PS, que inscreveu a venda da TAP no PEC II, mas esta será antes uma questão coutada: quem faz uma privatização vive dessa privatização. Os exemplos mais pindéricos de José Luís Arnaut, homem de serviço na privatização dos CTT, ou de Catroga e sua recompensa pela entrega da EDP são apenas sinais do enorme lastro de tesouros e recompensas que as privatizações entregaram ao poder político nas últimas décadas.
Bem vistas as coisas, não terá Passos Coelho feito uma transposição da sua própria realidade ao avisar os trabalhadores da TAP. Num país em que tudo se privatiza e em que tudo falha, o que salvou os homens do regime senão a privatização do próprio poder político? Se olharmos para a composição do Governo de Passos e Portas nos últimos três anos, tendo em consideração as ligações passadas aos principais grupos económicos, vemos que o Conselho de Ministros não está muito distante de uma Assembleia Geral de Acionistas, apenas para citar alguns:
Grandes escritórios de advogados: 2 Ministro (Paula Teixeira da Cruz, Assunção Cristas) e 7 Secretários de Estado (Adolfo Mesquita Nunes, Alexandre Miguel Mestre, António Leitão Amaro, Filipe Lobo D'Ávila, Paulo Núncio, Pedro Lomba, Teresa Morais).
BES: 3 Secretário de Estado (Ana Rita Barosa, Leonardo Mathias, Pedro Gonçalves).
BPN: 1 Secretário de Estado (Franquelim Alves).
REN: 1 Secretário de Estado (Henrique Gomes).
Citibank: 1 Secretário de Estado (Joaquim Paes Jorge).
BPI: 1 Secretário de Estado (Miguel Morais Leitão).
BCP: 1 Ministro (Paulo Macedo).
Artigo publicado no blogue Inflexão
Comentários
Fico muito contente como o
Fico muito contente como o tema das privatizações é abordado no artigo de Adriano Campos.
As privatizações fazem parte duma lógica neoliberal que visa empobrecer o velho mundo, para que este fique na dependência dos grandes lobbys do capital. Fazendo assim dos Povos escravos do capital, para alcançar este objectivo tem de se tirar ao Estado todo o seu poder e riqueza para meter este poder e riqueza nas mãos de pessoas ( privados ), que agente não conhece de lado nenhum e que se está bem nas tintas para nós ( Povo ). As provas e os exemplos estão por todo o lado !
Evidentemente neste processo, aqueles que cooperam com os lobbys do capital, são recompensados pelo capital, e tornam-se nos cães de guarda dos barões do dinheiro. Assim nasce a corrupção, assim se engana e rouba o Povo. Sim roubar, porque vender ao desbarato bens públicos ( de Todos ), que fazem parte da riqueza nacional, para dar uns "trocos" ( centenas de milhar de euros ) a ganhar a uma minoria corrupta ao mesmo tempo que o Povo fica mais pobre, isto é um Roubo !! E muitos roubos tem acontecido na nossa história... e essa gente continua a passear por ai, e sobretudo, a rir-se de nós ( Portugueses ). É vergonhoso !
Nós, Todos, somos responsáveis por isto, por deixar isto acontecer, é triste !
Por outro lado, se as empresas ( privatizadas ) são interessantes economicamente para os ditos privados, porque é que, não o são para o Estado ?? O que é que essa gente, que não conhecemos de lado nenhum, faz de melhor que um funcionário competente ao serviço do estado ( Todos ) faria ?? A resposta vocês sabem qual é.
Temos de contrariar e sair desta lógica dominante do capitalismo selvagem, e já, sob pena de um dia acordarmos e ver que é tarde demais....
Força !
A Luta Continua !
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