A primavera dos Povos

porAdriano Campos

11 de maio 2012 - 11:29
PARTILHAR

Neste sábado está convocada uma manifestação internacional, a “Primavera Global”, que assinalará um ano do 15 de Maio mas que também representa um segundo momento de mobilização global contra os 1% que nos amarram a vida.

Há um ano tudo era mais confuso. Depois de 3 PEC’s e uma crise política encenada tínhamos eleições marcadas, o acordo (não traduzido) da troika circulava entre os gabinetes de José Sócrates e Eduardo Catroga, a dívida tudo justificava e o ser “Merkozy” estendia os seus tentáculos a toda a Europa; toda esta mecânica avançava a um ritmo inabalável. Mas também é certo que nem só de nuvens carregadas se pintava o horizonte. Os ventos árabes amadureciam uma mobilização popular onde ela menos se fazia esperar e aqui ao lado, no Estado espanhol, o movimento dos indignados atingia os seus picos de mobilização. Também em Portugal o frenesim do 12 de Março fazia com que muitos esperassem, com uma certa emoção, uma maior resistência à chegada da troika(embora ela já cá morasse). Conhecemos o resultado. Um ano depois muita coisa mudou, na sua maioria para pior, mas muito do que antes era obscuro apresenta-se agora com mais clareza – a necessidade de momentos de convergência, como os que tivemos no 15 de Outubro e na Greve Geral, transformou-se numa urgência partilhada por mais pessoas. E nessa caminhada é bom estar atento aos sinais que nos chegam.

O primeiro sinal vem, é claro, da Grécia. No ano passado uma pesquisa estimava que pelo menos 2,6 milhões de pessoas teriam participado de alguma forma nas mobilizações populares nas praças, bairros e faculdades durante o mês de Junho – e sabemos que desde então já não chegam os dedos das mãos para contar as greves gerais e setoriais que tiveram lugar no país. Nem todas essas greves e manifestações foram magníficas em número e no impacto político que causaram, nem todas as “praças” resultaram na multiplicação de ativismos, e nem todo esse caudal de indignação desaguou (que estranho seria) numa alternativa de esquerda, partidária e socialista. Mas a resistência grega, aquela que vai bem para lá das imagens esfumadas e rotuladas que nos chegam no noticiário, surpreendeu da esquerda à direita com os resultados eleitorais históricos do último domingo – a social-democracia grega subiu ao telhado. Dirão: há o resultado da extrema-direita, há uma enorme abstenção e um sectarismo que, à esquerda, não está há altura dos acontecimentos. É certo, tudo isso acontece. Mas a lição grega é precisamente essa: as dinâmicas políticas na era da troika são avessas ao sincronismo; nem tudo corre no tempo certo e nem só de momentos de apoteose se alimenta a alternativa. Ter propostas claras contra a troika é, como nos mostra a esquerda grega, sempre a melhor solução.

O segundo sinal vem de muitos lados, pois contém o apelo das ruas. Neste sábado está convocada uma manifestação internacional, a “Primavera Global”, que assinalará um ano do 15 de Maio mas que também representa um segundo momento de mobilização global contra os 1% que nos amarram a vida. Num trabalho de convergência e valorização do trabalho de diversos movimentos - indignados, occupy - são convocados todos os que rejeitam a via única do austeritarismo e, como diz o manifesto, o querem vencer. Além de mais um momento esta manifestação pode ser, como outras o foram no passado, um espaço onde reconhecemos os nossos companheiros e nos conhecemos a nós próprios como militantes por uma mudança radical posto que maioritária. Ela não será uma repetição nem uma cópia, por isso todos contam – mesmo os que no PCP que escolheram, no Porto, realizar uma manifestação própria à mesma hora – todos fazem falta. Pois perceber que uma manifestação deste pendor não seria possível há um ano é ver que a rua pode funcionar como encontro mas, acima de tudo, como uma hipótese de militância: haveria Fontinha sem o 15 de Outubro? Lei cidadã contra a precariedade sem o 12 de Março? A identificação dos 1% sem o movimento Occupy? Ficam as perguntas.

No Porto, Lisboa, Coimbra, Faro, Santarém e Braga sairemos à rua com a certeza que a primavera, quando é dos povos, pode bem ser uma bela estação das nossas vidas.

Adriano Campos
Sobre o/a autor(a)

Adriano Campos

Sociólogo, dirigente do Bloco de Esquerda e ativista contra a precariedade.
Termos relacionados: