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Preconceito à solta na escola
A primeira foi afastada das crianças sem ter cometido nenhum ilícito ou falha profissional, o segundo foi efectivamente condenado mas continua a exercer a sua influência junto dos alunos. Em ambos os casos há quem queira fazer da escola o contrário do que ela deve ser.
Bruna Real, a jovem professora precária de música nas Actividades de Enriquecimento Curricular – foi afastada da escola e transferida para outras funções. A vereadora da Educação da Câmara Municipal de Mirandela justificou a decisão como o "alarme social” supostamente gerado pela sua conduta.
Do ponto de vista daquela edilidade, a nudez da professora – exibida dentro da lei e no espaço próprio –é uma influência negativa junto das crianças. Mas o que de facto fica a nu é o obscurantismo que paira sobre a escola. Para esta visão retrógrada o que parece assustar não é tanto o corpo, o erótico, o prazer ou o sexo, mas sim o facto de esse universo fazer parte de uma professora, ainda que o seja nas horas vagas. A moral conservadora quer-se reproduzir e se os professores estão numa posição chave, até a sua vida privada é sagrada.
Talvez este seja o mesmo tipo de preconceito que leva à rejeição de uma disciplina de educação sexual, fundamental para combater o atraso num país com a segunda maior taxa de gravidez na adolescência da Europa. Como se a missão da escola e dos professores fosse a de conspirar num tabu em vez de fomentar a responsabilidade numa sociedade livre.
Outro caso é o do professor que se dirigiu a um aluno com a expressão “entra lá ó preto!”. Indesculpável. Não há relativização que resista quando o racismo é naturalizado pela autoridade de um/a professor/a. Foi condenado judicialmente a uma multa de mil euros, mas ninguém se parece importar com o facto de poder continuar a espalhar a sua anti-pedagogia junto dos alunos. Neste caso, não houve “alarme social”.
São duas histórias que incomodam porque insinuam uma escola ao contrário. A do silêncio e do preconceito – a escola que não nos ensina a pensar.
Só que a escola serve para aprender a pensar. Para criar conhecimento, cidadania, consciência, democracia e direitos humanos. Decifrar por detrás das aparências, combater a ignorância, desfazer o preconceito e questionar os dogmas. Até mesmo para aprofundar o espírito crítico e desconstruir as receitas fáceis da publicidade ou da tradição. Infelizmente, dentro e fora da escola, ainda há quem prefira o facilitismo.
Comentários
Infelizmente o último
Infelizmente o último parágrafo refere-se a tudo o que a escola deveria ser e não é. Quando a própria escola destrói a educação e o cohecimento, os hospitais destroem a saúde, os tribunais a justiça, os media a informação e os governos a liberdade, percebemos o quão doentes estão aqueles que nos têm (des)governado e que continuarão a querer que tudo se mantenha desta forma.
"Pousou" é do verbo "pousar"
"Pousou" é do verbo "pousar" (parar, terminar, etc). "Posou" é do verbo "posar" (ter atitudes de pose, servir de modelo, etc).
É um erro muito frequente no Brasil, tal como "tampar" (pôr tampa) em fez de "tapar" (fechar, co rir com tampa, etc).
Já estamos a importar (quanto a mim erradamente) a ortografia através do novo AOLP, não vamos também importar os erros...
Caro Carlos Tem razão quanto
Caro Carlos
Tem razão quanto ao erro ortográfico
Peço ao editor do portal que o corrija.
Abraço
Boa tarde, Sem concordar ou
Boa tarde,
Sem concordar ou discordar do que foi dito, queria apenas dizer o seguinte: Quantas vezes não escutamos pessoas a dizer "aquela/e loira/o" ou "aquela ali, morena" . Que mal tem chamar preto a um preto?Quem julga que está mal é porque considera que ser preto é mau, sendo que dizer preto é um insulto! Ora, pessoalmente conheci pessoas "negras" que preferem mesmo ser tratadas por pretos em vez de negros. Há que ter naturalidade!
Cara Virgínia Uma coisa é
Cara Virgínia
Uma coisa é referir-nos em geral às pessoas de cor castanho escura, como por exemplo "em geral, os pretos/negros são discriminados"...
Outra coisa bem diferente é tratar directamente uma pessoa pela cor da pele, pois aí estamos a reduzi-la a essa condição (entra ó gordo!, entra ó branco!, entra ó magro!, entra ó alto!). É pedir muito que se trate pelo nome? O aluno não tem nome? Se o professor não soubesse o nome (às vezes são mesmo muitos nomes para saber) bastava dizer "pode entrar", não acha?
Veja também o que escrevi aqui
http://movimentoescolapublica.blogspot.com/2010/05/indesculpavel.html
Cumprimentos
Miguel Reis
Caro Miguel Reis Eu precebo o
Caro Miguel Reis
Eu precebo o que diz, perfeitamente.( Mas também percebo o que eu digo, perfeitamente). No entanto, acho que não há necessidade de se fazer tanto alarido em volta da questão. Tenho quase a certeza que o Professor autor desse comentário não o fez por mal. Se o fez foi, de certo, devido ao estado de exaustão em que se encontram os Professores hoje em dia. Ora diga-me quantos alunos pagam seja o que for quando fazem um comentário ( ou bem pior) a um Professor.
E eu falo com bastante conhecimento de causa.
Gostaria de acrescentar algo
Gostaria de acrescentar algo mais. Quanto à Professora em questão, não tenho nenhuma crítica ( positiva ou negativa) em relação à mesma, não porque pense que não devemos criticar os outros mas porque não me apetece perder tempo. (Penso o mesmo em relação à direcção que tomou a decisão sobre a sua alteração de posto de trabalho). Contudo, penso que os argumentos que o Miguel apresentou, "defendendo" um e "atacando" outro são algo falaciosos. Isto porque para uns assinala liberdade de expressão e para outros o oposto. Para certas pessoas, a duas ofensas podem ter igual valor.
Outra coisa, não são revistas como a referida que vão melhorar a capacidade de uma sociedade em enfrentar a sexualidade. Pois "aceitar" a sexualidade nada tem que ver com exposição individual da mesma.
Banalização e ausencia de preconceito não são a mesma coisa.
Espero não parecer "conservadora", pois não o sou.Mas sim conciente que ser "open-minded" não tem nada a ver com ultrapassar todos os limites.
Virgínia A professora não
Virgínia
A professora não cometeu nenhum ilícito, muito menos em sala de aula. Posou para Playboy e tem todo o direito de o fazer. Se há quem fique ofendido, é um problema dessa pessoa. Eu também me sinto ofendido por muitas coisas, mas não as posso proibir em nome das minhas convicções em matéria de costumes. Pelo contrário, o professor proferiu um ilícito em matéria de direitos, e ainda por cima em sala de aula, dirigindo-se a um aluno (e não é a mesma coisa ser o aluno a dizê-lo, o poder/referência de um professor sobre uma turma inteira é incomensurável). Ao contrário do professor, a professora não insultou ninguém, embora houvesse quem se tivesse sentido insultado.
Quanto ao sexo, não se trata de o banalizar (embora sobre isso o debate tenda sempre para o confronto de convicções pessoais sem matéria de costumes). Trata-se de perceber que quem quer impor a sua moral de costumes a todos indo ao ponto de mudar uma professora de funções pelo que fez na sua vida privada, facilmente estará do lado dos que defendem o preconceito dentro da escola, e o tabu. Ainda bem que não é o seu caso e congratulo-me com isso.
Miguel, Aconselho-o a ir a
Miguel,
Aconselho-o a ir a uma escola o mais rapidamente que possa!Para ver como "o poder/referência de um professor sobre uma turma inteira é incomensurável)" é uma frase Absurda.
Além disso, essa coisa de direitos e liberdades aplicadas de modo arbitrário, enfim.
Não vale a pena, o Bloco é uma desilusão constante.
Deviam estudar Economia e Filosofia antes de dizer seja o que for.
Qualquer dos casos é irreal.
Qualquer dos casos é irreal. Mas a partir do momento que o Sócrates ganha eleições não uma vez mas duas, mentindo não uma vez mas diariamente eu acredito em tudo. A lenda de Salazar continua viva mas encarnou no partido socialista.
O profissionalismo, seja de
O profissionalismo, seja de quem for, não deve ser questionado pela conduta pessoal. Principalmente quando não se atenta o outro. A professora em questão não deve ser julgada na praça publica por ter usufruido de um direito seu, de liberdade de expressão, em condições de legalidade. Enquanto a sociedade, dita evoluida, não se libertar dos seus tabus e preconceitos, estaremos todos sujeitos a estes atentados ao respeito da nossa individualidade. Não é crime pousar para uma objectiva com o nosso valorizado corpo, num gesto de partilha desse reconhecimento. Todos observamos e somos muitas vezes vítimas, diariamente, de formas de crime e sua impunidade.Não é o caso.
A revista em questão está esgotada, certo? Onde está a cooerência de tudo isto? Não há coerência, somos uma sociedade hipócrita!
Tenho sérias dúvidas que algum dos alunos da referida professora fique traumatizado por ter acesso ás referidas fotos da sua, agora afastada, professora.Não posso dizer o mesmo do aluno que foi identificado pelo professor como "o preto"... O professor em causa continua em contacto com os alunos certo? Não há coerência... Isso sim, é crime, de ofensa verbal. O menino em causa tem nome, todos temos.
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