O Apartheid é eterno e inevitável e os muros da Palestina, de Melilla e de Berlim são sólidos e ameaçam nunca se dissolverem no ar. Crianças são assassinadas por efeitos colaterais, homens e mulheres são torturados e vidas são massacradas. Porque hoje é Sábado1.
As estátuas colossais dos ditadores aterrorizam praças vazias para sempre ficarem vazias. E o capricho do bronze importado, por trinta dólares de prata2, julga-se imune à lei da gravidade. Porque hoje é Sábado.
O lucro de poucos cresce até às desmedidas de "uma estrutura de humilhação sucessiva que começa nos mercados financeiros e termina na casa de cada um", deixando caídas pelo caminho baixas de guerra, externalidades corrosivas e outros frutos da ditadura que "mais valia" nunca ter existido, junto com este Sábado.
Mas o futuro é teu. Porque os ditadores também se vergam aos pés de cada revolução popular. E porque as guerras também morrem às mãos de quem torturam, chega um dia, Domingo, em que não descansa quem sempre lutou contra os donos de vidas alheias.
Porque hoje é Sábado mas amanhã será Domingo. Porque o inevitável esconde sempre em si alguma coisa de impossível, o amanhã, mesmo que uns não queiram, será um lindo dia, de todos os que esperam ver outro futuro raiar.
1 Referências ao "Dia da Criação" de Vinicius de Moraes e ao "Amanhã" de Caetano Veloso.
2 Por trinta moedas de prata, conforme os mercados e os judas, tanto se vende um escravo como um messias.