Por trás dos sorrisos plásticos

porMiguel Reis

28 de abril 2010 - 15:26
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É que a ministra sabe que há escolas em que não houve avaliação, outras em que as notas foram alteradas para respeitar quotas, outras ainda em que quase nenhum professor concorreu às notas de "excelência" como forma de protesto político - insubmissão vingativamente punida - e outras escolas em que a avaliação foi apenas uma dor de cabeça e não passou de um papel igual para todos.

Este episódio mostra bem que o que move o governo não é a qualidade da escola pública. Trata-se apenas de tentar ganhar uma guerra mediática sem olhar a meios: "afinal sempre conseguimos avaliar esta gente pois até já conta para os concursos". Quem se "lixa" primeiro, claro, são os mais fracos: os professores contratados testados como cobaias no desespero de garantir um emprego.



Nada disto surpreende num ministério sem agenda para a escola pública e cuja missão de Isabel Alçada se explica em poucas palavras: como contornar a contestação massiva dos professores - que trouxe no passado enormes custos políticos - sem pronunciar a palavra derrota, e manter a Educação refém da ortodoxia financeira, sem políticas de fundo que verdadeiramente ajudem a combater o insucesso escolar e o atraso.



Olhando para estes seis meses, por trás dos sorrisos plásticos, o que sobra, além da inevitável abolição da divisão da carreira de professor, logo vingada pela matreirice da avaliação nos concursos, são declarações de intenções, algumas alterações de superfície ao Estatuto do Aluno, e o elogio fanático à Parque Escolar e às obras feitas sem concurso.



Sobre o que importa - escola inclusiva, igualdade de oportunidades e combate ao atraso - nada se vê. Com a Educação de mãos atadas pela corda das Finanças - algo com que a ministra vive bem e até concorda - o pântano nas escolas permanece: turmas sobrelotadas, ausência de equipas multidisciplinares (psicólogos, mediadores culturais, terapeutas de fala, etc.), desinvestimento no ensino especial, manuais escolares a preços de luxo, e dezenas de milhares de professores em regime de total precariedade e instabilidade.

Miguel Reis
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