Pela boca morre o peixe (e a maioria absoluta)

porMiguel Martins

27 de novembro 2023 - 12:39
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As maiorias absolutas nunca deixaram saudades, tal como a de António Costa. Não há estabilidade quando os salários e pensões que não chegam ao fim do mês. Do que nos valem contas certas e a aparência de estabilidade quando o nosso futuro e a nossa vida estão a ser roubadas?

Para surpresa do país, António Costa, líder do Partido Socialista que conquistou uma surpreendente maioria absoluta há pouco mais de um ano, apresentou a sua demissão há alguns dias. E com isto, Portugal volta a estar mergulhado em mais uma crise política, com a instabilidade que daí advém. 

Como o próprio António Costa havia em tempos reconhecido, as maiorias absolutas sempre deixaram más memórias aos portugueses. Hoje, vemos bem como a maioria absoluta do PS foi no mesmo sentido – o malfadado “pântano político”, que tanto deu que falar, teve sempre origem no arco-do-poder governamental.

E agora? A maioria absoluta implodiu, desaparecendo o véu de estabilidade aparente. Ainda que o próprio PS tenha tentado apresentar possíveis nomes para o lugar de António Costa, não havia alternativa a não ser a convocatória de eleições antecipadas. A demissão do primeiro-ministro não pode ser vista com leviandade, tampouco a desconfiança nas instituições que daí advém.

Mas qual foi a estabilidade que a maioria absoluta trouxe ao país? Qual o orgulho do Governo e da maioria absoluta em alcançar excedentes orçamentais à custa da vida das pessoas? As maiorias absolutas nunca deixaram saudades, tal como a de António Costa. Não há estabilidade quando os salários e pensões que não chegam ao fim do mês, com rendas que não conseguimos pagar, ao sermos obrigados a escolher onde gastamos o nosso dinheiro para sobreviver. Do que nos valem contas certas e a aparência de estabilidade quando o nosso futuro e a nossa vida estão a ser roubadas?

Hoje, vemos e sentimos as consequências de uma maioria absoluta que nunca dialogou com os portugueses. As várias crises que enfrentamos continuam sem as respostas necessárias. Enquanto isso, os lucros de poucos, desde a banca, passando pelas petrolíferas, até às grandes empresas de retalho, aumentam vertiginosamente à custa dos baixos rendimentos que a maior parte das pessoas recebe. E agora, depois de tantos casos e casinhos, truques e malabarismos, o Governo caiu. E, com ele, caiu o pano da arrogância, da sobranceria e do absolutismo que marcou a governação de António Costa.

As alegadas negociatas que levaram à queda do Governo ilustram o pior do que a política tem - o risco de compadrio, em que interesses pessoais se sobrepõem aos interesses do país. Deixemos a justiça atuar e aguardemos por mais conclusões. Mas uma coisa é certa - não contam, nem nunca contarão, com o Bloco de Esquerda para formas de fazer política que não sejam sérias ou transparentes.

No próximo dia 10 de março, as e os portugueses serão chamados, uma vez mais, às urnas. Cabe a cada uma e a cada um de nós escolher, em consciência, o destino que queremos para o país. Estas eleições avizinham-se como umas das mais importantes da nossa vida.

À esquerda, sempre apresentamos uma alternativa séria e que quer responder aos problemas do país e das pessoas. Uma alternativa transparente e credível, que nunca cede a interesses ou alinha em truques e negócios que prejudicam a população. Uma alternativa que luta pela valorização de rendimentos, por empregos dignos, por casas para viver, pelo combate à corrupção, entre tantas outras questões económicas e sociais. Uma alternativa que luta pelas nossas vidas e pelo nosso futuro, que pode ser resumida no seguinte lema: "Servir o povo e nunca se servir dele".

Esta alternativa de que falo está no Bloco de Esquerda. Sabemos bem de onde vimos e ao que vamos. Sabemos qual é o país que queremos, sem medo de reivindicar as ideias que apresentamos. Queremos um Portugal para todas as pessoas, sem que os interesses de poucos se sobreponham à vida dos muitos. Cá estamos, como sempre estivemos, prontos para a luta.

Artigo publicado no jornal Barcelos Popular a 23 de novembro de 2023

Sobre o/a autor(a)

Miguel Martins

Sociólogo. Mestrando em Geografia na Universidade do Minho. Deputado municipal do Bloco de Esquerda em Barcelos
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