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Pegada imperial

A NATO afirma-se cada vez mais como a força armada do capitalismo global e é parceiro incontornável nesta nova política imperial.

Nos tempos em que Portugal era “uno e indivisível do Minho até Timor”, a qualidade e a pujança de uma potência imperial calculava-se pelo número de colónias que o Império possuía, pela quantidade de território por elas ocupado, pela sua expressão geográfica e pelas riquezas que delas se exploravam.

Com a derrota das políticas coloniais, a era dos Impérios afundou-se na onda de democratização que atingiu a Europa e que levou à inevitável emancipação de todos povos antes subjugados por potenciais imperiais. Ou será que não?

Vejamos alguns números:

- Em 2005, o número oficial de bases militares norte-americanas localizadas em países estrangeiros era 737.

- A quantidade de grandes bases navais norte-americanas é equivalente à dos britânicos em 1898, no auge imperial.

- Hoje devem ser mais de 1000.

- O Pentágono calculou que o valor actual de todas as bases militares que os EUA possuem no mundo ascende a 658.1 mil milhões de dólares.

- O total do território ocupado por bases militares norte-americanas em todo o mundo é de 120.676 km² (a área de Portugal é 92.090 km²).

Desta longa lista foram excluídas as bases militares do Afeganistão e Iraque; as instalações construídas em locais que o governo norte-americano não quer divulgar; os campos que, como Guantánamo, recebem secretamente “suspeitos de actos de terrorismo”; as bases que são partilhadas com os governos locais; as bases situadas no Kosovo, Turquia, Israel e outros países, e as bases da NATO. No total, calcula-se que o número escale bem acima do milhar.

Assinalar num mapa do mundo cada uma destas bases é um exercício possível, embora trabalhoso e assustador. Se ao mesmo desenho acrescentarmos a presença mundial da NATO, torna-se inevitável notar o óbvio: A NATO afirma-se cada vez mais como a força armada do capitalismo global e é parceiro incontornável nesta nova política imperial.

Com instalações e forças militares dispersas por todo o mundo, a democracia americana construiu aquilo a que muitos chamam “a versão moderna do Império”. Da mesma forma que as colónias projectavam o poder das suas potências, as bases militares são a expressão mais visível da supremacia militar norte-americana no mundo. São também a razão da debilidade teórica para todos os que se iludem com a solução multilateralista ou que consideram que o Império não comporta centros de poder na era da globalização.

Esta presença militar permanente em territórios nacionais não beneficia as populações locais, não torna o mundo mais seguro nem protege os países onde elas estão localizadas. O percurso dos voos que ilegalmente transportavam prisioneiros para Guantánamo mostra-nos isso mesmo.

Exigir a saída de Portugal da NATO e repudiar a existência do comando da NATO em Oeiras e das instalações norte-americanas nas Lages significa recusar estar no rasto desta moderna pegada imperial. Esse será também o nosso grito na manifestação de dia 20 de Novembro.

Sobre o/a autor(a)

Deputada e dirigente do Bloco de Esquerda, licenciada em relações internacionais.
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