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PAN (mas para que lado)?

O PAN é um partido simpático, é difícil não concordar com a maioria das suas propostas ambientais e não duvido que seja constituído por muita gente de convicções e esforço. Mas a leitura do seu programa eleitoral prega-nos bons sustos.

Os debates televisivos entre os líderes dos partidos com assento parlamentar estão a ser um doce aperitivo para a tranquilidade de uma eleição com vencedor antecipado. Resta saber por que números se traduzirá a vitória do PS e, decorrentemente, como estará a saúde da democracia portuguesa nos próximos quatro anos: truncada por uma maioria autocrata ou saudável pela necessidade de convergências. Em todos os debates, nenhum dos partidos se atreveu a plantar minas no terreno ou a estourar foguetório por antecipação. O PS é o maior amigo da contenção e parcimónia, o Bloco não acelera porque o vento sopra a favor e dá velocidade, o PCP tenta conter danos emergentes que têm raízes fundas, o PSD prefere manter uma pose de Estado sorumbática enquanto assiste à derrocada pela incapacidade de Rui Rio iluminar um golpe de asa, o CDS finge que está tudo bem com aquele sorriso condescendente de família conservadora que prefere um táxi confortável do que um transporte sério para o debate público. Então e o que faz o PAN? Procura sobreviver à informação que nos vai dando sobre a sua inconsistência.

Fundado em 2009 com o nome "Partido pelos Animais" (PPA), inscreve-se oficialmente no Tribunal Constitucional, dois anos depois, com o nome de "Partido pelos Animais e pela Natureza" (PAN). Hoje, o P de "Partido" lê-se como P de "Pessoas" e esse é o melhor encontro com a realidade que o PAN consegue promover. O PAN, mais do que o partido que pretende ser, traduz-se num grupo de pessoas que ainda não se libertou da sua génese puramente animalista e ambientalista onde as pessoas são, sobretudo, a sigla de uma agenda. As pessoas como adenda, na ausência de partido.

O PAN é um partido simpático, é difícil não concordar com a maioria das suas propostas ambientais e não duvido que seja constituído por muita gente de convicções e esforço. Mas a leitura do seu programa eleitoral, amplamente dissecado esta semana, prega-nos bons sustos. A proposta (entretanto emendada) onde o PAN previa a obrigatoriedade de reconciliação (em sessões semanais) entre criminoso e vítima (ou seus familiares) em crimes violentos, está longe de ser apenas um lapso ou erro grosseiro. É uma aberração. Corresponde a uma visão animalesca da vida onde o Homem pode ter um mundo de regras e possibilidades que o PAN nunca admitiria aplicar a animais. O PAN tem apenas uma década de história mas a sua falta de posicionamento ideológico acaba por tornar transparente a impreparação para alavancar verdadeiras mudanças estruturais em política.

Em linguagem musical, PAN é a abreviatura usada para "panorâmica", ou seja, traduz a possibilidade de conduzir o som para a direita ou para a esquerda. Não podemos ser condescendentes até o PAN decidir ao que vem e como. Em entrevista ao "Expresso", entre muitas outras hesitações, André Silva não consegue apontar um único erro à governação de António Costa. Isto não é Esquerda, Direita ou Centro; é colagem. O PAN é a muleta perfeita para António Costa governar em minoria com uma maioria absoluta. Um simulacro que pode ir a votos em Outubro.

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 13 de setembro de 2019

Sobre o/a autor(a)

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.
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