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A obsessão do Bloco Açores é procurar um futuro melhor para a Terceira

Não é só o Bloco que reconhece que a utilização militar da Base das Lajes pelos EUA é um obstáculo ao desenvolvimento da Terceira.

Ao contrário da ideia que Emanuel Areias tenta fazer passar, no seu último artigo de opinião, a obsessão do Bloco é com o desenvolvimento futuro da ilha Terceira, e neste momento a utilização militar da Base das Lajes pelo governo norte-americano não é uma oportunidade, é um obstáculo.

O Bloco não tem aversão a nenhum povo. Não se pode confundir um povo com as políticas dos seus dirigentes. O Bloco discorda abertamente da política externa dos EUA e quer que Portugal e os Açores não sejam um brinquedo nas mãos da administração norte-americana.

As recentes declarações do comandante norte-americano das Base das Lajes é exatamente isso que faz: brincar com os Açores. O referido comandante tem a desfaçatez de dizer que quer 45 militares com as suas famílias na base, mas que isso seria o equivalente a “ganhar a lotaria”. Todas e todos sabemos que ganhar a lotaria é quase impossível, sendo uma questão de probabilidades, e elas não estão a favor de quem joga...

Mas depois, como se já tivesse entrado no espírito carnavalesco e decidisse escrever o enredo de um bailinho, acrescenta que “conseguir uma pessoa já seria bom”.

E o que é que o vice-presidente do Governo Regional faz? Vem para a Praça Pública cantar vitória e dizer que está satisfeito com esta “notícia”.

O mesmo vice-presidente que há pouco mais de um ano dizia ser necessário sermos duros e determinados nas negociações com os EUA sobre as contrapartidas pela sua utilização da Base das Lajes.

E o que tem o CDS – através de Emanuel Areias ou do seu líder Artur Lima – a dizer sobre as recentes declarações de Miguel Monjardino – personalidade de reconhecida competência sobre assuntos relativos à política externa e assuntos internacionais – que aponta um caminho para o futuro da Base das Lajes em que a componente militar não é a principal e que se foque na interação entre mar e atmosfera?

Miguel Monjardino refere mesmo que “essa é uma grande possibilidade que nós temos. Obviamente, levará tempo. Mas é algo mais permanente e que dá origem, lentamente, a empregos qualificados”.

Esta é precisamente a visão que o Bloco tem defendido, há mais de uma década: um futuro em que a posição geoestratégica dos Açores e as infraestruturas da Base das Lajes estejam ao serviço da economia da Terceira e dos Açores, e não ao serviço da máquina de guerra dos EUA.

O que o Bloco não quer é a subserviência dos Açores e de Portugal aos interesses dos EUA, que querem ter a Base das Lajes sempre ao seu dispor para quando lhes interessar, mesmo que para isso, os Açores tenham de suspender indefinidamente os seus objetivos.

E não é só o Bloco que reconhece que a utilização militar da Base pelos EUA é um obstáculo.

Recordo aqui as recentes afirmações do atual presidente da SATA, que em comissão disse o seguinte: “Preocupa-me o drama que se tem vindo a desenrolar nos últimos dias [ofensiva militar na Ucrânia] porque, se o Aeroporto Civil das Lajes de repente ganhar nova importância estratégica do ponto de vista militar, acabou-se. Todas estas rotas, esqueçam. Para tudo, não há volta a dar”.

E este é só um exemplo das oportunidades que a Terceira está a perder há décadas, porque há quem prefira que Portugal e os Açores continuem a ser subservientes aos EUA.

Não temos vergonha de querer, realmente, um futuro melhor e de apontarmos o caminho para tal.

Sobre o/a autor(a)

Deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores. Licenciada em Educação. Ativista pelos Direitos dos Animais. Coordenadora do Bloco da Ilha Terceira
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