Estive a ler artigos teus antes de escrever este texto. Encontra-se neles tanto de ti que é como se te tivéssemos aqui mesmo ao nosso lado, sempre a lutar por nós. Não me habituo a usar a palavra luta, costumo preferir outras, mas o espírito combativo era todo teu e eras a primeira a reivindicá-lo. Lembro-me do que disseste em frente ao Teatro Faialense, na festa de despedida após o teu último dia de plenário na ALRA. Que ias sentir saudades do debate e sobretudo do “killer instict” a que o frente a frente obrigava. Foram estas as palavras, as tuas, e como resposta à minha surpresa, confirmaste-mas com o olhar.
O que mais recordamos é a elevação, a inteligência, o humor e sobretudo o amor que punhas em tudo o que fazias. A festa que aqui recordo foi, aliás, organizada em tua homenagem por membros de um partido da ala política oposta, o que diz muito sobre como era mágica a tua fórmula de combater amando. Mas foi naquele momento que vi melhor a força política que trazias dentro e que é tão necessária para se estar inteira no confronto diário.
Mais cedo nesse dia de 2018, tinhas dito na bancada da assembleia: “Não há nada que dê mais colorido e força à vida do que lutar por uma sociedade mais digna, mais democrática, mais humana, mais tolerante, mais decente, e sobretudo, no fim, por uma sociedade e por uma terra sem amos”. Era essa a motivação da tua força, a tal convicção inabalável que te fez ultrapassar os dissabores a que se presta quem não teme fazer o que sabe que deve ser feito. Nem ameaças, nem agressões, nem processos judiciais dos grupos de interesse a quem causaste incómodo te pararam. Que lição nos deste.
No próximo sábado às 17h30 na Casa Manoel de Arriaga, relembramos-te com saudade, carinho e como grande inspiração que continuas a ser todos os dias. Fizeste dos Açores um lugar melhor e abriste o espaço necessário para que esse teu caminho seja continuado. As conferências Zuraida Soares deste ano acontecem na Horta. No encontro anual que marcamos contigo debatemos temas de democracia, liberdade e direitos humanos.
É tema desta edição o ativismo. O ativismo que nunca abandonaste desde os tempos de estudante e que te valeram problemas com a PIDE. Falaremos dele no âmbito do feminismo, pelo qual fizeste tanto numa sociedade marcadamente patriarcal. Não esquecemos que em 1998, no âmbito da campanha pela despenalização do aborto, foste agredida por causa do que defendias. Falaremos ainda do ativismo pela conservação ambiental marinha. Vamos debater o mar dos Açores que tanto frisaste como elemento central no cumprimento da autonomia dos Açores. E, mais importante ainda, vamos estar uns com os outros e contigo.
Até sábado, Zuraida!
