Este aumento do número de mortos, em relação a anos anteriores, iniciou-se na passagem da segunda para a terceira semana de Janeiro. O governo nada disse e nada fez, “acordou” em 26 de Fevereiro, pela boca do Ministro da Saúde que, pesaroso, declarou: “ O importante é que a situação foi detetada, está a ser acompanhada e vai ser alvo de uma análise para que se descubram os motivos que originaram um pico anormal de mortalidade nas últimas semanas”.
Durante mais de seis semanas, o governo manteve-se imperturbável. Nem uma só medida para diminuir o impacto do frio no estado de saúde, sobretudo dos mais idosos, nem para providenciar um acesso mais fácil aos serviços de saúde e a aquisição dos medicamentos necessários ao tratamento.
Nada, apenas a indiferença do governo: as urgências continuaram “entupidas”, os internamentos super-lotados, os centros de saúde sem reforço de médicos ou alargamento de horário. Perante uma situação excecional, o governo foi como se não existisse.
E, no entanto, tudo isto era mais que previsível. Primeiro, porque já se sabia que o vírus da gripe, este ano, era particularmente agressivo para os mais velhos. E, segundo, por que ninguém desconhece que a crise social e o empobrecimento fragilizam muitos milhares de cidadãos perante a doença, no caso, a gripe, pondo em risco a sua vida.
A austeridade é tão devastadora como um vírus. São muitos os cidadãos que deixam de aquecer as suas casas porque não podem pagar a eletricidade ao fim do mês, que nem uma refeição por dia conseguem fazer ou que não dispõem de dinheiro suficiente para pagar as taxas moderadoras ou a conta na farmácia.
Neste inverno, a austeridade impediu que muitos cidadãos se protegessem e defendessem da gripe. São os portugueses que vivem abaixo das suas necessidades. Para o governo, vivem acima das suas possibilidades…