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O triste Estado de uma Região a saque

Um Estado de privilégios para os protegidos e afilhados e um Estado de indigência e necessidade para tantos trabalhadores.

O cerco imposto à Região pelos grandes lóbis privados, ligados ao poder económico que tudo controlam, é o exemplo mais acabado do Estado a que chegou a Região Autónoma da Madeira. A estratégia adotada por este Governo Regional (GR), de obediência cega ao poder económico, continua a lesar gravemente os interesses dos madeirenses, sonegando-lhes dinheiro para o que é essencial enquanto os grandes tubarões continuam a sugar tudo e a embolsar quantias astronómicas que poderiam ser utilizadas para atalhar a pobreza em que os sucessivos governos do PSD mergulharam a nossa população.

Vejamos o caso recentemente noticiado que dava conta de que a Região teria que pagar 3 milhões de euros à AFAVIAS, do patrão do sr. VPGR (Vice Presidente do Governo Regional), porque o Sr. Avelino achava que lhe deviam ser dadas determinadas obras que não existiram. O Sr. Avelino queria fazer obras, as obras não foram decididas como ele queria e vai o Zé Povinho pagar a obra que o Sr. Avelino não fez. Rapidamente veio o Secretário das Infraestruturas arengar uma desculpa sobre uns terrenos, que ninguém engoliu, mas lá que os 3 milhões vão direitinhos para o amigalhaço da Calheta, a mando do seu antigo funcionário e Homem forte deste GR, lá isso vão. O Sr. António Henriques, aqui há uns anos, entre copos e combinanços com o dr. Jardim, lá conseguiu ficar com o negócio das inspeções automóveis. Apesar do concurso ter sido ganho por outra empresa, lá foi feito o favor ao compadre e entregaram as inspeções, de forma ilegal, ao tubarão dos estacionamentos e afins. Lá vem a empresa preterida reclamar da sua exclusão ilegal, lá o tribunal avança com a multa de 20 milhões de euros que a Região terá que pagar e, mais recurso judicial, menos recurso judicial, lá vão mais 20 milhões deitados fora só porque foi preciso ajudar o pobre do Sr. Henriques.

Na Educação, entre extinções e fusões de Estabelecimentos de Educação, algumas delas de clara vingança contra órgãos de direção que não são submissos a suas excelências, lá continuam a ir 25 milhões por ano para o ensino privado enquanto se fecham escolas públicas por faltas de alunos. Uma vergonha e uma indecência agravada pelo bónus de mais 340 mil euros oferecidos a uma escola privada do Funchal.

A Escola Hoteleira, entregue de mão-beijada a um grupo privado, que, ao longo destes anos, recebeu milhões para gerir esta instituição vê-se a braços com uma série de trapaças, salários em atraso, formadores e demais pessoal à beira do desespero, sem saber o que o futuro lhes reserva. O senhor GR promete colocar a instituição na ordem, afirma categoricamente que vai retirar a concessão ao CELFF mas… volta atrás e mantém a gestão entregue à privataria. Privataria que como a nova pirataria continua no assalto ao nosso litoral.

Mudam a lei, para passar para a tutela da Região a gestão do domínio público marítimo, não com pena dos habitantes do Paul, mas para facilitar a vida aos grandes tubarões, ligados à hotelaria e ao imobiliário, na usurpação do Litoral. O caso mais recente da construção de um Hotel no portinho, no Caniço, em cima da linha da maré-cheia é o exemplo mais flagrante de que vale tudo para saciar os comilões que tudo querem usurpar, com a complacência do GR e da Câmara local, todos juntos pelo polvo cujos tentáculos gulosos tudo açambarcam. Nos portos, quem tem a gestão portuária está podre de rico e todos os dias embolsa milhões sem pagar um único cêntimo à Região por essa exploração. Como se esta rapinagem fosse pouco para os ‘glutões’ também têm os monopólios na ligação de serviço público entre as duas ilhas do nosso arquipélago, sendo o mesmo grupo empresarial que detém a quase exclusividade do transporte marítimo de carga entre o continente e a Região. Como se isso não bastasse, os DDT só permitem que o ferry do armador espanhol, que ajudaram a escorraçar, faça aqui escala se o zé-pacóvio pagar ao Grupo Sousa, através o OR, 250 mil euros por cada paragem no porto do Funchal.

 

É este o triste Estado de uma Região a saque pelos corsários alinhados com a irmandade renovada. Estado de privilégios e sinecuras para os mesmos de sempre, que continuam a mandar nisto tudo. Enquanto o povo tem que pagar empreitadas aldrabadas, indemnizações, monopólios, concessões, privatarias, piratarias, PPP’s e tantos desvarios a tantos comilões. Um Estado de privilégios para os protegidos e afilhados e um Estado de indigência e necessidade para tantos trabalhadores, desempregados de longa duração ou jovens à procura do primeiro emprego que são obrigados a procurar futuro na emigração. Um estado de desespero para tantos idosos sozinhos, abandonados e empobrecidos.

Pode o sr. Presidente do GR, e demais membros do Executivo, se congratular com um alegado sucesso governativo que só eles vêm. Podem espalhar aos quatro ventos as maravilhas feitas nestes anos de desgovernação. Mas há uma pergunta que devemos colocar a quem nos vê e ouve neste momento: Madeirenses e portossantenses: sentem no vosso dia-a-dia a recuperação económica que o GR aqui anuncia?! Sentem no vosso dia-a-dia que a vossa vida melhorou nos últimos tempos?! Sentem que a pobreza diminuiu e que o GR está a responder às vossas necessidades e anseios?!

É que nós também não!

É este o verdadeiro Estado da Região!

Muito paleio e pouco pão!

Mas tirar aos ricos é que não!

Correr com eles, está na vossa mão!

Intervenção final no debate do Estado da Região Autónoma da Madeira, na Assembleia Regional a 25 de julho de 2018

Sobre o/a autor(a)

Técnico Superior de Educação Social. Ativista do Bloco de Esquerda.
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