O trabalho de base pode derrotar a extrema-direita

porAndreia Galvão

29 de outubro 2024 - 12:22
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Na grande manifestação convocada pela Vida Justa, mais de 5000 pessoas desceram a Avenida da Liberdade num espírito abrileiro e festivo. Não nos descansa o sucesso desta manifestação. Mostra-nos que não está nada perdido e que temos muita gente a contar connosco. Não as podemos desapontar.

A semana passada vimos uma grande manifestação convocada pela Vida Justa e subscrita por mais de oitenta associações antirracistas, ambientalistas, laborais etc. Mais de 5000 pessoas desceram a Avenida da Liberdade num espírito abrileiro e festivo. Na mesma cidade, à mesma hora, reuniam-se cerca de 300 manifestantes numa manifestação convocada pelo CHEGA "em defesa da polícia". Esta reunia desde dirigentes e deputados do partido a elementos de grupos neonazis entre os quais o grupo 1143 liderado por Mário Machado. Se a discrepância numérica já bastaria para demonstrar a vitória da mobilização em homenagem a Odair, o caráter democrático e justo das reivindicações da mesma davam-lhe certamente a vitória. Quero falar-vos dos motivos do sucesso desta mobilização.

Em primeiro lugar, a mobilização de bases apresenta-se como fundamental para a formação da comunidade que precede a política. Esta só é possivel com o trabalho persistente, lado a lado com as comunidades, capaz de rejeitar algum paternalismo que é quase sempre inevitável quando nos rendemos a formas de intelectualidade. É este trabalho que trouxe milhares de manifestantes, diretamente afetados pelas pautadas levadas pelo movimento. Estamos mesmo a lutar pelas nossas vidas.

Em segundo lugar, a articulação feita com a sociedade portuguesa é fundamental. Não basta ser uma manifestação dos bairros ou dos negros. Esta mobilização é construída com os precários, os pobres brancos, os imigrantes, todos os que não conseguem pagar a renda, os que defendem a democracia e a vida humana como valor fundamental. No fundo, a maioria do país. Para esta análise é fulcral rejeitar a ortodoxia do lugar de fala. É a luta e o movimento que cria o sujeito político.

Para este trabalho de articulação foi fundamental o conjunto de associações que participou e construiu a manifestação, bem como o trabalho parlamentar e autárquico que a auxilia. Aí, o Bloco esteve bem.

Em terceiro lugar, a comunicação. Os objetivos e instrumentos de uma manifestação devem ter em conta quem os vê. Quanto mais simples e entendidos por vários setores das classes populares e tendo em conta a heterogeneidade da sociedade melhor. É preciso pensar a comunicação de forma política e não meramente algorítmica.

Não nos descansa o sucesso desta manifestação. Mostra-nos que não está nada perdido e que temos muita gente a contar connosco. Não as podemos desapontar.

Andreia Galvão
Sobre o/a autor(a)

Andreia Galvão

Andreia Galvão Atriz, produtora e agente cultural. Membro da Comissão Política do Bloco de Esquerda. Licenciada em Ciências da Comunicação e Mestre em Teatro
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