Em Espanha, como em Portugal, a direita marca o passo e o ritmo da austeridade. Em Espanha, como em Portugal, foi a capitulação definitiva do Partido Socialista que abriu caminho à direita por via de eleições antecipadas. Ao antecipar as eleições gerais espanholas para 20 de Novembro, Zapatero antecipa o fim do seu ciclo político e muito provavelmente a saída do PSOE do governo. Apesar do forte movimento dos indignados em Espanha, foi o PP quem obteve uma vitória esmagadora nas eleições regionais. Estes resultados espelham não apenas o descontentamento com a política de austeridade levada a cabo pelo PSOE, mas também revelam a eficácia do populismo de direita. Note-se que perante a austeridade do PSOE, o líder do PP Mariano Rajoy não hesita em prometer "Não farei cortes sociais", tal como o PSD disse que não ia aumentar impostos nem cortar no 13º mês.
O fim dos governos de Sócrates e de Zapatero é apenas a concretização ibérica do destino dos partidos socialistas europeus. Neste momento, os socialistas europeus resistem no poder apenas na Áustria (em coligação com o partido popular de direita), na Eslovénia (em coligação com os liberais), na Irlanda (minoritários num governo de direita) e na Grécia (em coligação com o FMI). Em toda a Europa, a crise foi justificação maior para a cedência final relativamente aos programas originais destes partidos. Os que ainda governam, governam em austeridade e em alianças compatíveis com a mesma. Os que estão na oposição, são as ditas oposições responsáveis e construtivas que subscrevem a austeridade.
Ao adoptar a austeridade como paradigma da resposta à crise, os socialistas europeus consentiram em participar na viragem à direita que marca a era dos credores e em contribuir activamente para a superação capitalista do neoliberalismo. A nova narrativa ideológica criada em torno da ideia de inevitabilidade não seria suficientemente hegemónica sem esta cumplicidade.
Os desafios que se colocam à esquerda são enormes. Só a compreensão da anatomia da crise pode dar-nos a capacidade de prever o ataque e encontrar as respostas mais mobilizadoras. Assim se constrói a ofensiva em tempos de resistência: nunca abandonando o lado de quem resiste.
Os partidos socialistas europeus não resistiram, desistiram. Antes da crise, antes do FMI e da austeridade já coziam em lume brando as privatizações, as alterações à lei do trabalho e os cortes sociais. Antes da crise, os interesses a defender já não eram os da maioria mas os do grande patronato e da grande finança. Antes da crise, foi a maioria de governo da internacional socialista que criou as regras monetaristas da União Económica e Monetária.
Os PS’s percorreram um caminho difícil, de avanços e recuos, mas sempre determinado em direcção ao liberalismo. Fizeram-no voluntariamente e pelo próprio pé. Chegados ao seu destino, levam sequestrado o nome de um projecto que há muito abandonaram e, com ele, muito do povo da esquerda.
O PS dá mau nome ao nosso projecto. Resgatemos o socialismo.