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O síndrome Buzz Lightyear

Passos & Portas têm uma convicção: Portugal deve ser o Buzz Lightyear da Europa. Tal como o delicioso boneco de Toy Story, o Portugal de Passos & Portas tem um lema: “até ao infinito… e mais além!”

A Troika manda cortar 550 milhões na saúde? O Governo corta 810. A Troika manda cortar 195 milhões na educação? O Governo corta 510. Passos & Portas seguem e reforçam o caminho iniciado por Sócrates nos PEC’s: para “acalmar os mercados” nada melhor que os surpreender com boas prendas e por antecipação. Se os mercados salivavam por uma penalização do trabalho, o Governo dá-lhes uma “penalização +”; se os mercados exigiam a privatização da electricidade, o Governo dá-lhes electricidade, águas e televisão.

Passos & Portas têm uma convicção: Portugal deve ser o Buzz Lightyear da Europa. Tal como o delicioso boneco de Toy Story, o Portugal de Passos & Portas tem um lema: “até ao infinito… e mais além!”. Ou seja, o que Passos & Portas estabelecem como horizonte para o país é ir até ao infinito da humilhação dos pobres, obrigados a exibir os seus documentos de pobres nos guichets para o passe + ou obrigados a trabalhar de graça para receberem o rendimento social; é ir até ao infinito da liberalização das relações de trabalho, com despedimentos pagos pelos próprios trabalhadores; é ir até ao infinito do desinvestimento na saúde ou na educação, com encerramentos a eito, desqualificação dos serviços e fim da sua cobertura universal. Mas isso não satisfaz Passos & Portas. E é aí que entra o mais além. Não lhes chega o trabalho gratuito dos pobres, não lhes chega a liberalização dos despedimentos, não lhes chega a imputação às famílias dos custos da educação e da saúde. Para tudo há um adicional. Por isso Paulo Macedo não esconde uma pontinha de orgulho em reconhecer na televisão que os cortes na saúde lesarão o interesse público. E Álvaro Santos Pereira anuncia com entusiasmo e emoção que estes cortes que o Governo vai fazer são a forma de o Estado dar o exemplo.

Buzz Lightyear, que clamava com farronca “até ao infinito e mais além!”, tinha uma debilidade: não percebia que não passava de um boneco. Portas & Passos não têm sequer esse álibi: sabem que são ferramentas políticas de uma agenda social e económica mais funda. Mas a principal diferença é outra: o filme de Buzz Lightyear tem um happy end; o de Passos & Portas é uma tragédia.

Sobre o/a autor(a)

Professor Universitário. Dirigente do Bloco de Esquerda
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