Começam a faltar adjectivos para acompanhar a falta de paciência de um país que assiste, já sem resiliência, à forma como responsáveis políticos nacionais decidem, sem procurar saber e ainda que avisados, sobre questões de proximidade, sem qualquer ligação à filigrana das diferenças que habitam um país tão pequeno. Seria fácil se houvesse vontade política mas, como não há, o que sobra é grosseiro e sublinhado a presunção. Nem nesta geografia portuguesa, una e indivisa, o centralismo deixa de ser pedante. Não reflecte ou projecta o mínimo desejo de pluralidade ou autonomia. Ao poder central, enquistado na letargia e apostado na manutenção dos interesses instituídos, o país continua a pesar como um fardo.
Incapazes de sair do pecado capital que centraliza todas as decisões (e que, no fundo, está-se nas tintas), o que seria a reforma estrutural da habitação, mais do que urgente e vital, transformou-se no mais pré-anunciado veto presidencial de uma legislação de que há memória. O processo de descentralização, fraude à vista pelo condicionamento à regionalização, cerceado pela incapacidade de perceber a lógica de condomínio (quanto mais de vizinhança), é um paradigma da incapacidade de ir ao encontro de um país que não merece um desígnio constitucional adiado desde 1975. A regionalização, medo maior dos caciques nacionais, multiplica-se em mil adamastores do empata, baralha e dá de novo.
Da distância. Na reforma da habitação, atropelam-se regulamentos como os do Porto Solidário que têm sido absolutamente decisivos para a vida das pessoas mais carenciadas na cidade do Porto. Tudo porque ninguém dialoga, poucos querem saber e ninguém faz pontes. Da proximidade. Na TAP, nada de novo senão a indemnização que deverá vir a ser paga à CEO Christine Ourmières-Widener. Alegar justa causa para o despedimento da gestora num processo com esta complexidade, teia de mentiras e omissões, é tudo menos "juridicamente blindado", como assegurava Fernando Medina. Sobra a incredulidade e a anedota: a ainda CEO não foi ouvida pela Inspecção-Geral das Finanças pelo simples facto de não falar português. "Uma questão de línguas", assume o responsável. O que não foi obstáculo para a sua contratação é um estorvo para a descoberta da verdade. Ninguém acredita. Nem acredita a CEO da TAP, perante tantas facilidades para se defender de um labirinto feito à medida. Se o poder central trata assim questões de uma companhia nacional que vive ao lado, como se espera que possa curar de perceber o país à distância?
Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 07 de abril de 2023