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O Partido Socialista e o Salário Mínimo

Há muito que não se via uma campanha assim. O documento dos economistas permitiu ao PS marcar a agenda política nestas últimas semanas, embora longe do impacto esperado e propalado pelo grupo de António Costa.

A tática é, tal como descreve Pedro Silva Pereira, dupla: uma demarcação aparente das escolhas macroeconómicas da direita; uma ocupação do espaço à esquerda em matéria de combate à precariedade e defesa do trabalho.

Uma vez que o PS reafirmou nas respostas enviadas ao PSD que a “trajetória do défice e da dívida é consistente com uma consolidação orçamental sustentada e realista”, sem justificar o irrealismo das projeções aqui apontado pelo Ricardo Paes Mamede, vexando assim o seu líder parlamentar e João Galamba, que há um ano defenderam publicamente um processo de reestruturação da dívida acima dos 60% do PIB, tratemos, pois, da questão do trabalho.

Salário Mínimo: um programa em cima do muro

O mesmo documento dos economistas, que é apresentado pelos dirigentes do PS como o marco inaugural de uma alternativa credível de governo, quando confrontado com a questão do salário mínimo, rapidamente é remetido para a qualidade de uma documento técnico de apoio, “este não é o programa eleitoral do PS”. Ora, a questão já nem é recordar a feroz oposição de Mário Centeno a uma política de salário mínimo, uma vez que essa contradição entre a direção do PS e os seus economistas já resultou num baixar da proposta como bandeira do PS.

É preciso lembrar que o aumento do Salário Mínimo, defendido por toda a oposição em 2014, foi uma das imposições feitas por Costa a Seguro no chamado “documento de Coimbra”, e desde então assumido como fator diferenciador contra a direita. O novo consenso económico ditou a sua substituição na agenda eleitoral pela nova invenção do PS, o “complemento salarial” para trabalhadores pobres. O aumento dos 17 euros em 2016 lá está, mas é com esta bandeira, e não a do salário mínimo, que o PS vai à luta nas legislativas.

Depois da enorme transferência do trabalho para o capital operada nos anos da troika, o choque de procura que um aumento real do salário mínimo poderia provocar, recuperando o valor congelado durante três anos, precisa da ambição de um programa de esquerda, capaz de se elevar dos preconceitos ideológicos que associam o aumento do SMN à destruição do emprego. Faltam 5 meses para se fazer essa escolha.

O debate sobre o complemento salarial e a TSU continua dentro de momentos.

Publicado no blogue Inflexão em 15 de maio de 2015

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, dirigente do Bloco de Esquerda e ativista contra a precariedade.
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