O chão e o teto que lhes fugia debaixo dos pés

porAlexandra Manes

30 de outubro 2018 - 10:19
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Sentir, mais uma vez, que estamos do lado certo da história dá força para que outras lutas se enfrentem e se travem com tanta garra como a dos moradores e moradoras do Bairro de Santa Rita.

Empatia – de uma forma muito breve – pode ser definida como a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, vivenciando e experienciando os mesmos sentimentos.

Desde que se tornou pública a concretização do despejo de 13 famílias no Bairro de Santa Rita, e a intenção firme de outros despejos se sucederem, questões como “E se fosse comigo?” ou “O que podemos fazer?”, me ocorreram.

Penso não ser necessário descrever toda a história de duas décadas de inação e de ineficácia por parte das entidades responsáveis e/ou com competência na matéria para a resolução deste imbróglio, em que alguns fingiam não ver, outros/as preferiam não saber e ainda outros/as passavam a bola, como se a história do futuro daquelas pessoas não passasse de possíveis casas em ruínas.

Penso não ser necessário descrever toda a situação que as centenas de famílias – que vivem em comunidade há mais de duas décadas – experienciaram nestes últimos meses, sem saber se o dia seguinte trazia uma ordem de despejo. As mesmas famílias que serviram de bandeira a campanhas eleitorais durantes alguns anos.

Pessoas que nada mais queriam do que a possibilidade de resolver a sua situação, assumindo o pagamento de um valor pelo chão da casa que compraram, pagaram e dela fizeram o seu lar.

Assisti ao desespero de algumas dessas pessoas, pela falta de apoio, pela ansiedade provocada pela informação desanimadora que lhes chegava, pelo medo de, a qualquer momento, poderem ser despejadas, ficando sem teto para si, para os/as seus/suas filhos/as e, em alguns casos, netos/as.

Durante alguns dias, vi crescer a força de um coletivo que decidiu não baixar os braços e não desistir de lutar. Foi esta força, esta coragem, esta determinação para enfrentar “tudo e todos” que deu o mote para que se percebesse que este não seria um caso perdido. Dou os meus parabéns aos moradores e moradoras pela força demonstrada, esperando que sirva de exemplo a tantas outras causas.

Nada me poderia deixar mais feliz do que perceber que todo o trabalho desenvolvido pelo Bloco de Esquerda – através do Projeto de Resolução que visava a intervenção do Governo Regional para impedir mais despejos – resultou, fazendo com que se desenvolvessem esforços para resolver esta situação.

Bem sabemos que será ainda um processo longo, mas a satisfação de ouvir a festejar, entre lágrimas e risos, o facto de poder dormir descansada, sem medo da incerteza do dia seguinte, é uma sensação impagável.

Sentir, mais uma vez, que estamos do lado certo da história dá força para que outras lutas se enfrentem e se travem com tanta garra como a dos moradores e moradoras do Bairro de Santa Rita.

Às centenas de pessoas que manterão o seu lar, a melhor das sortes! Às 13 famílias que vivenciaram a angústia do despejo e que agora têm a possibilidade de voltar às suas casas, um grande bem-haja pela força! Sejam muito felizes!

Alexandra Manes
Sobre o/a autor(a)

Alexandra Manes

Deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores. Licenciada em Educação. Ativista pelos Direitos dos Animais. Coordenadora do Bloco da Ilha Terceira
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