O Bully da Casa Branca

porAntónio Lima

09 de fevereiro 2025 - 20:58
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Os motivos da cobiça de Trump sobre a Gronelândia – posição geoestratégica e recursos naturais com potencial de exploração – também se aplicam aos Açores, incluindo os recursos minerais que, no nosso caso, estão no mar profundo e não sob o gelo.

Era esperado que, no início do novo mandato, Trump se dedicasse a implementar as medidas mais simbólicas apresentadas na campanha. Era esperado que o ataque à imigração fosse imediato, dada a centralidade que esta ocupa na política da extrema-direita em geral e no trumpismo em particular. Se havia dúvidas de que a deportação em massa iria mesmo ocorrer nos EUA, agora estamos esclarecidos.

Quem continua a considerar que não há motivos de receio para as comunidades portuguesas nos EUA, apenas porque Portugal é um país europeu, certamente se esquece das centenas de pessoas deportadas nas últimas décadas dos EUA para os Açores. Não há certezas sobre a dimensão dessas possíveis deportações, mas enfiar a cabeça na areia será um erro crasso.

O governo regional, numa primeira fase, anunciou a existência de um plano de contingência para receber uma possível vaga de açorianos deportados dos EUA. Mas, pouco tempo depois, através do vice-presidente do governo, Artur Lima, ficamos a saber que o plano de contingência, afinal, não passa de uma atualização de contactos e procedimentos do plano existente para o acolhimento de refugiados ucranianos.

Entretanto, o plano, com tão efêmera existência, foi consultado pela comunicação social nacional e regional, mas o parlamento não conhece uma linha do documento que, segundo Artur Lima, afinal não existe. Era bom que este assunto fosse tratado com a seriedade que merece.

Na mesma semana em que o governo regional anunciava o tal plano de contingência para receber açorianos deportados por Trump, o parlamento dos Açores aprovou (com os votos contra do Bloco e do PAN) um voto de saudação à nomeação de Devin Nunes, republicano luso-descendente, para um alto cargo na administração Trump. O mesmo Trump que ameaça tomar pela força (das armas ou da economia) a Gronelândia, território dinamarquês. Qualquer semelhança com Putin não é coincidência. O efeito foi, desde já, um brutal aumento dos gastos com defesa por parte da Dinamarca, país da UE e da NATO.

Os motivos da cobiça de Trump sobre a Gronelândia – posição geoestratégica e recursos naturais com potencial de exploração – também se aplicam aos Açores, incluindo os recursos minerais que, no nosso caso, estão no mar profundo e não sob o gelo. É preocupante que se comece desde já a prestar vassalagem ao bully da Casa Branca com uma saudação parlamentar a Devin Nunes, seu apoiante e funcionário.

António Lima
Sobre o/a autor(a)

António Lima

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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