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O beija-mão de Bolieiro
A decisão era esperada. Só não se sabia quando ia acontecer. O que não se esperava era que isso acontecesse menos de 3 meses depois de Carlos Furtado ter sido reeleito líder do partido nos Açores e que acontecesse em jornadas parlamentares com o líder nacional, ao mesmo tempo que decorria o plenário da Assembleia Legislativa dos Açores. A situação só pode ser classificada como insólita e bizarra, uma verdadeira comédia.
É verdade que esta situação levantou dúvidas sobre o futuro do atual governo regional dos Açores. Mas, rapidamente, veio o agora deputado independente jurar fidelidade ao governo regional. Assim, mantém o seu lugar de deputado e senta-se na bancada laranja.
Mas não foi apenas Carlos Furtado que veio reafirmar o apoio ao governo regional. Após acusações de excessiva subserviência ao PSD por parte do Chega/Açores, veio o líder de todo o Chega, dar o dito por não dito, e anunciar na sede da presidência do governo regional, a sua fidelidade ao acordo.
O que mais importa notar nesta atribulada semana é que esta maioria está constantemente mais preocupada com os equilíbrios de poder interno do que em governar e resolver os problemas das pessoas. E há muitos problemas.
Já é a segunda vez que o fantasma da crise política se coloca em oito meses de legislatura. Curiosamente é uma entidade externa à política regional que, mês sim mês não, procura obter ganhos de causa encenando potenciais crises.
O Chega/Açores não existe e é o "imperialista" líder nacional que vem aos Açores negociar com Bolieiro. Na sala dos adultos nem entra o atual deputado único do Chega/Açores.
É Bolieiro que, mês sim, mês não, presta vassalagem a Ventura, abrindo a porta de Santana para negócios partidários e dando as garantias que Ventura quer. O problema é que algumas dessas garantias são falsas. Disse Ventura em Santana que Bolieiro lhe garantiu que não existiam nomeações de familiares diretos. Esqueceram-se Ventura e Bolieiro das nomeações de familiares do Conselho de Administração do HDES [Hospital do Divino Espírito Santo].
Ventura procura levar as suas vitoriazinhas, mesmo que sejam mentiras, para Lisboa para mostrar que o PSD nos Açores é próximo do Chega para assim criar mais um embaraço a Rui Rio.
E o PSD/Açores e a coligação prestam-se ao triste papel de permitir que os Açores sejam uma mera carta nos jogos de poder da direita nacional. Permitem tudo isto e permitem ainda que um elemento externo ao sistema político regional anuncie medidas a aplicar nos Açores em pleno palácio de Santana. Medidas para atacar os pobres e cumprir a sua agenda de ódio.
Os grandes autonomistas do PSD e até os independentistas da praça estão em silêncio quando os Açores são tratados como uma autêntica colónia de Ventura.
E porque promove o PSD e os restantes partidos da coligação todo este desrespeito pela autonomia, todo este insulto à separação entre partidos e governo? Porquê, todos estes jogos de poder sem qualquer preocupação com os Açores e com quem cá vive?
A resposta é simples: fazem-no porque esse é o preço a pagar para permanecerem no governo. Mesmo que o custo seja beijar a mão a Ventura, mês sim, mês não.
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