Para ver se se percebe bem até onde vai o poder e a arrogância do BCE, esse poder com rosto mas sem nenhum controlo democrático, há que perceber o que está em cima da mesa.
Das três opções que o BCE tinha, escolheu, claro está, a pior para a Grécia e para todos/as nós.
A primeira possibilidade seria manter o apoio de liquidez aos bancos gregos. Nada de novo, uma vez que já o fez a Portugal, por exemplo. A quem obedece e não pia perante as ordens da senhora Merkel faz-se o mal, mas sem dar muito nas vistas.
A segunda opção era fechar o programa de assistência de liquidez aos bancos gregos colocando-os na falência. Ameaçaram à exaustão que era isso que ia ser feito. Não fizeram nem lhes convinha. Se o tivessem feito cairia por terra a tese de que Grécia é um caso isolado, lá disparariam os spreads de Portugal e de outros países, percebia-se como tudo está ligado e não havia retórica de 'bom aluno' que ajudasse Maria Luís Albuquerque e companhia.
A terceira possibilidade foi a escolhida: manter o programa mas não cedendo mais liquidez. O resto estava escrito. O governo não podia fazer outra coisa senão fechar os bancos durante a semana, com transferências e levantamentos limitados. Os salários e as poupanças estão garantidos, mas o avançar do medo também.
O BCE e as instituições europeias jogam assim a carta mais pesada na campanha do referendo, a do medo, a que pode levar os gregos a votar Sim. Não há dúvida da jogada arguta de quem não se comove com a desgraça dos outros, mas pode ser que o tiro saia pela culatra. A palavra final é ainda do povo grego. Pode ser que o BCE e as instituições europeias se tenham enganado profundamente. Escuso de dizer que estou a torcer por isso. É da dignidade de todos/as nós que estamos a falar.
Artigo publicado na página de Marisa Matias no facebook
