Nenhum sistema político-partidário é imutável e eterno, pois a dinâmica da luta de classes relembra-nos diariamente que todo o mundo é constituído por mudança, assumindo sempre novas características. Se mais não fora, aí estão os Campos Elísios para o recordar.
Vem isto a propósito do lento definhar daquele a quem por vezes chamam de PPD-PSD, alicerce da democracia para uns, correia de transmissão de interesses corporativos e capitalistas para outros. Os sinais de necrose estão lá todos. As consequências desta apática letargia dizem respeito a todos os democratas, até porque a vida política tem horror ao vazio.
A questão que verdadeiramente importa é a de saber se esta morte lenta do PSD vai dar de bandeja a tão ambicionada quimera que cega os socialistas - a maioria absoluta.
É neste ambiente de declínio que o populismo – e o PS - não podem senão agradecer o facto de o deputado do PSD, Luís Campos Ferreira, de forma vergonhosa, ter pontuado com música associada ao ambiente taurino um momento solene de voto no espaço nobre da soberania do povo português - o Parlamento - vociferando, qual ‘peão de brega’ de segunda categoria um sonoro “Olé!”.
Por faenas de igual calibre caiu um ministro, em tempos idos…
O desprezo demonstrado pelo deputado marialva em relação ao local e ao momento diz muito do que é o seu partido, hoje em dia.
O populismo – e o PS – não podem senão agradecer que a deputada do PSD, Maria das Mercês Borges se substitua a um colega em momento solene de voto, somando o seu voto ao do colega ausente, quando está em causa o Orçamento do Estado. Isto é, mentido sobre a realidade da vida parlamentar. O desprezo demonstrado pela deputada pelo rigor da democracia representativa diz tudo sobre o que é o seu partido hoje em dia. Ninguém se esqueceu, com certeza, do recente episódio das faltas de um outro deputado do PSD, mascaradas à falsa fé pela mão amiga de outra deputada, colega de bancada.
É nesta inércia de vergonha, amoral e de desorientação que vegeta o partido político cujo líder tem por maior bandeira a ética, mas que está há meses entretido com questões internas, insistindo num amorfismo ideológico, vazio de propostas alternativas e conduzindo alegremente o PSD ao colo largo e generoso dos socialistas. Ambicionam estes governar – com maioria absoluta ou com o sonâmbulo PSD – segundo os seus velhos instintos genéticos de direita. É por isso que a anemia de um tanto interessa a outro, gémeos siameses do espectro político, separados à nascença, mas sempre tão próximos.
É este o quadro em que o povo português será chamado às urnas, em outubro, para decidir sobre o futuro governo da Nação. Este é o momento de afirmar, com gente séria, dedicada às causas nobres da vida coletiva, ideias alternativas à esquerda que sirvam o bem comum e que impeçam o regresso das políticas de direita. Este é o momento de o povo distinguir entre aqueles que o servem e os que dele se servem, e de afirmar uma esquerda sem complexos, pronta para fazer a diferença.
Porque, afinal, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se a confiança, todo o mundo é constituído de mudança!