A cidade de Angra do Heroísmo retomou uma tradição que tinha perdido nos últimos anos. A pandemia roubou a ilha Terceira, e retirou-lhe a mui nobre e sempre atual arte de fazer o que costumamos chamar de “danças e bailinhos de Carnaval”. José Gabriel do Álamo de Meneses decidiu que estava na altura de voltar ao novo normal, e tomou a iniciativa de apresentar a todas e todos os angrenses um momento de comédia, abrilhantado por alguns toques de tragédia, à boa maneira de um bailinho terceirense.
Isso tudo, durante a mais recente sessão da Assembleia Municipal, onde o presidente declamou um longo soneto de lamúrias, para se desculpar pela incapacidade do seu executivo em gerir um dos mais importantes centros históricos do país.
Vamos então por partes. De acordo com o que nos foi possível apurar, o presidente do progresso e do betão começou por falar no aumento dos preços e nos atrasos associados ao mesmo. Com toda a retórica a que já nos habituou, Álamo disse tudo e o seu contrário, afirmando perentoriamente que os novos preços tinham provocado atrasos em algumas obras, para logo de seguida indicar que está tudo a decorrer dentro da normalidade. Vá-se lá perceber.
Falou nos seus sucessivos erros relacionados com o novo mercado da cidade. Ou melhor, apontou culpas a todas e todos, menos a ele. Se em mais de uma década o projeto nunca avançou, a culpa certamente foi da DRAC, que por acaso já mudou de liderança e estratégia tantas vezes que até ficamos na dúvida se o atual diretor já ouviu falar deste caso, quanto mais decidir sobre o mesmo. Mas, para Álamo Meneses, a culpa é da DRAC. Ou então é da UNESCO. Ou da localização da obra. Ou de uma suposta denúncia. Enfim. Só sabe, que nada soube, o que fica muito bem a um estadista.
Num último golpe de génio, termina a sua intervenção sobre o mercado, admitindo que todo este caso é muito chato, e que a maior chatice foi uma qualquer denúncia feita à UNESCO, que lhe obriga agora a alterar o projeto, para repor a legalidade do mesmo. Portanto, a culpa é de todas e todos menos do projeto que não cumpre aquilo que Álamo não deixar passar despercebido às e aos munícipes.
O jogo mudou, diz o presidente, que mais parece o tal ratão, saído de um bailinho de Carnaval. Deixemos ainda uma última palavra às igrejas que ele ameaça como ficando vazias. A oratória do presidente está claramente enferrujada, mas nós ajudamos a desmontar a mesma. A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo decidiu promover a recuperação de dois imóveis, de importante relevo patrimonial, no centro histórico. Avançou com os projetos, pagou aos donos das empresas de betão e veio cortar fitas e falar mal da UNESCO e dos que se preocupam com a história daqueles edifícios.
Depois disso, faltou-lhe a verba, e agora chora copiosamente o erro que tomou. Lembro-me de uma velha estória, onde alguém deitava fogo à sua própria casa, apenas para culpar os bombeiros pelo atraso em lá chegar.
O bailinho de 28 de setembro não ficará nas nossas memórias coletivas. O presidente irá assegurar-se disso. Ainda assim, não posso deixar passar incólume a atitude infeliz de Álamo de Meneses, perpetuamente ocupado a arranjar desculpas para os erros que comete, e para os crimes de destruição patrimonial que idealiza, constantemente. A Câmara Municipal, a cidade e a herança coletiva das e dos angrenses merece muito melhor.
E a oposição? Preocupada com os gastos em obras para melhorar as condições das e dos trabalhadores da Câmara.… é isto.