Numa época festiva, um dos presentes no sapatinho do Governo vai ser o maior aumento de rendas dos últimos 30 anos. Se abrirmos uma pesquisa por notícias com as palavras “aumento de rendas”, no dia 26 de dezembro, a primeira página estava quase toda ocupada com o mesmo título: maior aumento de rendas em 30 anos para 2024.
Alertamos para isto vezes sem conta nos últimos longos meses. Fizemos propostas para impedir que isso acontecesse. Mas tudo foi chumbado pelo Partido Socialista. O mesmo PS que continua a vangloriar-se de uma “revolução na habitação” mas que manteve ou agravou os problemas gigantes de especulação imobiliária e permitiu que este aumento fosse a realidade de ano novo para demasiadas famílias.
Não devemos esquecer os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o peso da habitação (e associados, como energia e alimentação) nos rendimentos das famílias: desde 2015, o peso da habitação nos encargos das famílias aumentou 45%, sendo que em 2022/23 representaram 39% das despesas médias das famílias.
É preciso dizê-lo as vezes que forem necessárias: a habitação é, hoje, um dos fatores de empobrecimento de demasiadas famílias no nosso país.
Sabemos que a situação é particularmente grave em centros urbanos como Porto ou Lisboa, mas também no Algarve. Por sermos conscientes da gravidade da situação, há bastante tempo temos vindo a propor que se limite a possibilidade de aumentos de rendas, mas também que é preciso tabelar preços.
A forma quase religiosa como os governos não tocam no mercado imobiliário será mesmo a desgraça do país. Como é que se pode continuar a admitir que um T1 ou T2 que mal ultrapassam, por vezes, os 60m2 tenham rendas de 1200€, 1500€, 1700€ (quando não são superiores)? O salário médio em Portugal não chega, sequer, a estes valores.
É impossível. E vai continuar a ser impossível para milhares de famílias no nosso país. Os salários não aumentam, mas as rendas sim. Os salários não aumentam, mas a eletricidade e o gás sim. Os salários não aumentam, mas as prestações ao banco sim.
Perante isto, PS e toda a direita juntam-se para manter o mercado imobiliário intocado. Proteger as famílias parece já ser uma miragem para todos estes partidos. É por isso que em 2024 não podemos continuar a aceitar isto. Trata-se de defender um país com dignidade, onde a vida das pessoas vale mais do que o lucro dos que destroem as nossas cidades. Se parece simples, é porque é mesmo. E essa defesa está, como sempre esteve, no Bloco de Esquerda.
