Notas dinâmicas

porAlexandra Manes

14 de maio 2022 - 21:27
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O plenário [da Assembleia Legislativa dos Açores] de abril ficou marcado pela aprovação conseguida para benefício de pessoas doentes que, infelizmente, têm de se deslocar das suas ilhas para consultas, tratamentos e exames.

Dignidade para as pessoas doentes

O plenário [da Assembleia Legislativa dos Açores] de abril ficou marcado pela aprovação conseguida para benefício de pessoas doentes que, infelizmente, têm de se deslocar das suas ilhas para consultas, tratamentos e exames.

Claro que, como não se destinava a antecipar práticas taurinas – que parece ser o denominador comum entre alguns partidos, gerou polémica. Um apoio a pessoas doentes gerou polémica! A coligação não entendeu. PSD, CDS e PPM não compreenderam que pessoas que, por questões de saúde, necessitam de se deslocar da sua ilha de residência, necessitem de mais apoios do que aquele que está definido em portaria.

Tratou-se de algo tão simples e justo como alargar os apoios do Complemento Especial ao Doente Oncológico a pessoas pré e pós transplantadas, bem como a pessoas que, após as duas primeiras deslocações, seja reconhecida a necessidade de mais deslocações devido à sua doença.

A partir de agora, são mais 20 euros de apoio, direito a acompanhante e direito a receber uma percentagem da quantia total, à saída da ilha de residência.

Só mesmo quem não sabe o que é ter de se ausentar da sua casa, aumentando as despesas, pensando em como fazer face às contas mensais. Só mesmo quem nunca viu nos olhos, dessas pessoas, o desespero por irem sós. Só mesmo quem nunca ouviu o relato de refeições feitas à base de pão e bananas, pode argumentar que a proposta não fazia sentido. Só mesmo quem tem de agradar a sua cor partidária não manifesta a sua concordância com mais um apoio para pessoas doentes que têm de sair da sua casa, muitas vezes, desconhecendo o futuro de quem parte e de quem fica.

Nunca mais me esquecerei de ouvir “Será que as pessoas transplantadas com uma prótese na anca vão gostar de receber um apoio cujo título é para doentes oncológicos?”. Para esta questão, que quero acreditar se deveu mais a questões partidárias do que a ideia pessoal, há uma resposta: uma questão de designação impedia-lhe de obter apoios tão necessários para cuidar da sua saúde?

Provavelmente, falta muita empatia. Colocar-se no lugar do outro pode ajudar a ver o mundo de outra maneira.

De qualquer forma, nunca interpretarei isso como uma vitória do Bloco de Esquerda dos partidos que contribuíram com o seu voto favorável para esta aprovação. É, sim, uma vitória para as pessoas que necessitam devido ao seu estado frágil de saúde, de se deslocarem com frequência a unidades de saúde fora da sua ilha de residência.

A manteiga e o queijo das Flores

Como sabem, ficou a ilha das Flores sem duas das suas marcas mais reconhecidas: manteiga e queijo. Já o lamentei e torno a fazê-lo. A forma como o Sr. Secretário Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural se apresentou com um discurso devidamente elaborado, para que o ónus da questão ficasse nas mãos de quem não recebia há meses, ficou-lhe muito mal. Na verdade, ficou gravado nas Flores, como aquele que trabalhou para encerrar uma fábrica.

Entretanto, nas Jornadas Agrícolas da Praia da Vitória, realizadas na passada semana, o professor José Matos deixou um alerta, utilizando o exemplo da ilha das Flores, afirmando a necessidadede se repensar o atual modelo de reconversão para carne da exploração leiteira e lamentando o facto de alguns serem incentivados a produzir e noutras ilhas não sejam ajudados a resistir!

Resta saber o que poderá acontecer com a Cooperativa do Faial, embora me pareça que o Governo Regional não queira, de forma alguma, confrontar Carlos Ferreira, atual Presidente da Câmara Municipal da Horta. Percebem a diferença?

A caldeirada do congresso do Chega

Entre um mix de cenas à Preço Certo, só que em modo ofertas, assistimos a mais uma dose de incoerências, que Ventura deve estar a pedir para não serem identificadas.

Se por um lado, José Pacheco dizia que o povo açoriano o abordava para dizer que afinal, este governo é igual ao outro, por outro lado, Ventura, tentando justificar o conjunto de “hoje é que faço este governo de direita cair” com abordagens que as pessoas lhes faziam a pedir para não deixarem cair o governo... mas vocês, presidente e vice-presidente, conversam entre si ou somente trocam galhardetes, cachecóis e letras de hinos? Afinal, que vos dizem?

Mas, se algo ficou provado foi o facto de José Pacheco não ter autonomia para decidir o que fazer, sem lhe pedir autorização para tal.

O tal do centralismo e da falta de autonomia ficou bem clara quando José Pacheco pede ao Dr. Ventura para que a palavra final no Orçamento fosse a sua… mas, não tem José Pacheco autonomia para isso? Ou, afinal, obedece ao Dr. Ventura, o seu bom presidente, que está lá no continente?

Vergonhoso foi ver o secretário-geral do PSD manter-se naquela sala enquanto José Pacheco e Ventura, mais uma vez, chamavam as e os Açorianos de malandras e malandros!!

Já agora, e tendo um acordo de incidência parlamentar, tinha ficado bem a José Manuel Boleiro ter ido ao congresso do chega.

Vergonha ou indisponibilidade?

Alexandra Manes
Sobre o/a autor(a)

Alexandra Manes

Deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores. Licenciada em Educação. Ativista pelos Direitos dos Animais. Coordenadora do Bloco da Ilha Terceira
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