Netanyahu tenta esconder genocídio com acusações à ONU

porÁlvaro Arranja

07 de fevereiro 2024 - 0:14
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Quem defende a suspensão do financiamento da ajuda humanitária da ONU, é cumplice das políticas de Netanyahu e da extrema-direita israelita de aniquilamento e expulsão dos palestinianos de Gaza e, também, da Cisjordânia.

Numa clara manobra de diversão, para esconder a acusação de genocídio atualmente discutida no Tribunal Internacional da Haia, o governo de extrema-direita de Netanyau, intensificou a sua campanha contra a ONU.

Agora surge com a acusação de participação de funcionários da ONU nos ataques de 7 de outubro.

Mesmo que se confirme a veracidade das acusações, a manobra de propaganda é evidente. A ONU nos locais onde atua, tem o seus funcionários internacionais a coordenar as operações, mas sempre contrata trabalhadores locais para concretizar as operações. Não pode trazer de Nova Iorque funcionários para carregar caixotes com ajuda humanitária.

Como é óbvio, não pode fazer um inquérito detalhado sobre o passado de todos os carregadores de sacos com alimentos ou outro tipo de ajuda. Pode, como já o fez, afastar e acusar aqueles tenham participado em crimes, quando disso tenha conhecimento.

António Guterres tem tido uma atuação exemplar na atual situação em Gaza.

Tem primado pela isenção e pela preocupação com a gravíssima situação humanitária, provocada pela opção do governo de extrema-direita de Netanyahu em conduzir uma guerra de limpeza étnica contra o povo palestiniano.

Quem defende a suspensão do financiamento da ajuda humanitária da ONU, é cumplice das políticas de Netanyahu e da extrema-direita israelita de aniquilamento e expulsão dos palestinianos de Gaza e, também, da Cisjordânia.

Tempos houve em que a Palestina e Israel caminhavam para a paz.

Em 1993, os acordos de Oslo, assinados pelo palestiniano e líder da OLP, Yasser Arafat e pelo primeiro-ministro israelita, Yitzhak Rabin, abriram o caminho para a paz, baseada na solução dos dois estados.

A extrema-direita israelita e o Hamas no lado palestiniano, conduziram a oposição ao processo de paz.

Na noite de 4 de novembro de 1995, 100 mil pessoas reuniram-se em Tel Aviv. É a maior manifestação pacifista que o país já viu em anos.

O primeiro-ministro israelita sobe ao palco, diante de um mar de gente. Yitzhak Rabin, agradece à multidão por estar presente em grande número, pois deve implementar um acordo histórico que reconhecerá a autonomia da Palestina. Às 21h50, ele desce do palco e vai até o carro. É aqui que a história vai mudar.

Um judeu, membro de um pequeno grupo de extrema direita que se opõe ao processo de paz, emerge da multidão e dispara três tiros. Yitzhak Rabin foi ferido no baço e na coluna. Levado de urgência para o hospital, morre às 22h30.

Antes, em 1994, várias manifestações foram organizadas em Israel pela direita e pela extrema direita para exigir o fim do processo de paz, com palavras de ordem hostis ao governo trabalhista. Yitzhak Rabin, militar e combatente de todas as guerras travadas em Israel, é acusado de ser um traidor do país.

Segundo o historiador israelita, Élie Barnavi, os adversários políticos do primeiro-ministro não se aproveitaram apenas deste clima de ódio: “Benyamin Netanyahu foi um dos principais instigadores deste clima. Ele próprio liderou uma procissão com um caixão de Rabin”.

Netanyahu alimentou o clima de ódio em torno de Yitzhak Rabin, abrindo caminho para a ascensão ao poder de governos reféns dos princípios da extrema-direita religiosa por ele chefiados, defensores da limpeza étnica e da guerra permanente.

Derrotar Netanyahu e retomar o caminho dos acordos de Oslo, com base na solução da coexistência pacífica de um estado palestiniano e de um estado israelita, é a única solução para a paz.

Álvaro Arranja
Sobre o/a autor(a)

Álvaro Arranja

Professor e historiador.
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