NATO, Ucrânia, Rússia e ética

porPedro Caldeira Rodrigues

16 de julho 2024 - 22:20
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Nas conclusões da cimeira da NATO, nem uma linha sobre Israel e a sua política colonial, de ‘apartheid’, de “limpeza populacional” em larga escala. Por isso, a autoridade moral, a ética, a decência, dos países ocidentais que a integram, voltou a colapsar.

A recente cimeira da NATO em Washington que celebrou os 75 anos da sua fundação decorreu sob o signo do triunfalismo. A guerra da Ucrânia dominou a generalidade das sessões e foi confirmada a pulsão expansionista da organização militar ocidental dominada desde a sua fundação em 1949 pelos desígnios dos Estados Unidos, que agora decidiram promover uma “sucursal” no Indo-Pacífico.

O conclave iniciou-se pouco após os ataques diurnos de mísseis russos que atingiram em 8 de julho um hospital pediátrico em Kiev, entre outras instalações em vários pontos do país, com versões contraditórias sobre a sua origem e alvo de investigações paralelas em benefício dos seus promotores.

A condenação da agressão militar russa em larga escala à Ucrânia pelos “aliados ocidentais” foi reforçada por este sangrento ataque, numa cimeira que, quase por coincidência, se iniciou logo em 9 de julho e se prolongou por mais dois dias.

Acordos globais, acordos bilaterais, promessas no reforço da produção de armamentos, instalações de mísseis de médio alcance no centro e leste europeu, adesão “irreversível” da Ucrânia à NATO, mas não no imediato, reafirmação da sua natureza enquanto “organização defensiva”, foram algumas das suas conclusões.

Contudo, uma NATO que se reforça na sequência da guerra na Ucrânia, que voltou a confirmar a sua vocação imperial, global, que declarou a sua intransigência na defesa dos seus territórios, dos valores das democracias e liberdades ocidentais, do seu “modo de vida” – contra os autoritarismos e as ditaduras –, mesmo que crescentemente mitigadas.

No entanto, todos estes valores soçobraram durante a cimeira devido à presença de um país convidado e que desde 07 de outubro promove um massacre em larga escala sobre a população autóctone da Palestina.

Nas conclusões da cimeira da NATO, nem uma linha sobre Israel e a sua política colonial, de ‘apartheid’, de “limpeza populacional” em larga escala. Nos três dias da cimeira da NATO, dezenas de civis palestinianos continuaram a ser mortos, feridos, as suas casas destruídas, as suas terras confiscadas, na Faixa de Gaza, na Cisjordânia ocupada, em Jerusalém leste.

Por isso, a cimeira da NATO falhou rotundamente. Por isso, a autoridade moral, a ética, a decência, dos países ocidentais que a integram, voltou a colapsar. E nem as declarações de circunstância amenizaram essa evidência. Entretanto, voltou a imperar o silêncio.

Neste contexto, um artigo recente sobre a “guerra Israel-Hamas”, um conflito que decorre há muitas décadas, e iniciado muito antes da fundação desta organização palestiniana islamista em finais de 1987.

Sobre o/a autor(a)

Pedro Caldeira Rodrigues

Jornalista
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