Está aqui

Não faltarei à manifestação dos professores

Os professores deverão contar com todos, as famílias, os conhecidos e amigos, no activo ou reformados. No dia 11 de fevereiro, trata-se muito mais do que uma manifestação de ordem profissional.

A sociedade civil tem de se mobilizar, não pode abandonar os professores com um sacudir de ombros, “não tenho nada a ver com isso”. Não há professores que cheguem, os estudantes vão desistindo do sonho de ensinar, a sociedade civil sabe disso e fica afectada. Não é apenas o presente que se joga, é o futuro. A idade média dos professores é muito alta, nos próximos anos está prevista uma quebra considerável no actual contingente porque é hora da reforma. Os professores estão assoberbados com trabalho de carácter administrativo mas a sua preparação é técnica e científica, aplicar a sua disponibilidade e capacidades em funções administrativas é a desconsideração completa e também a demonstração mais perfeita da incapacidade de planear por parte de quem dirige escolas e de quem tem a pasta ministerial. Os professores que sonharam com uma carreira de ensino, que se prepararam seriamente para a docência, sentem-se defraudados. A desmotivação óbvia certamente que se reflecte no seu ambiente familiar, no seu círculo social. Pior, recai sobre os alunos. Os alunos farejam um professor desanimado, tendem a infernizar a vida dos professores e, por certo, levam estes casos para o meio familiar. Os pais não poderão em circunstância alguma dizer que desconhecem o ambiente escolar. Os professores não podem andar anos com a casa às costas, ou fazer quilometragens inaceitáveis, ou aceitar viver em quartos as mais das vezes sem condições, onde se resiste mas não se descansa convenientemente, onde não se consegue preparar uma aula, um projecto, analisar trabalhos ou corrigir provas. Consegue-se, isso sim, avançar para a mediocridade. Não queremos um trabalho remediado, na educação o trabalho tem de ser sempre de qualidade. E é pela qualidade e pela valorização constantes que as famílias, os conhecidos e amigos, no activo ou reformados devem juntar-se aos professores e descer à rua.

Os professores não são os únicos a lutar pela valorização profissional, há mais grupos profissionais que enfrentam o mesmo problema mas não convém misturar tudo. Estamos focados nos professores, reunir as nossas forças para os apoiar e conseguir que eles vençam, deve ser a primeira prioridade. Atrás de tempo, tempo vem e nós estamos aqui agora, é importante e pode ser decisivo transmitir aos professores a nossa solidariedade. A todos os professores independentemente da preferência política, a plataforma reivindicativa, o caderno de encargos com as razões que lhes assiste tem a capacidade de unir os professores na luta contra a arrogância e autismo do governo e isso, no meu entender, é neste momento o principal. Acreditar na força do sindicalismo é uma mensagem muito forte à qual só os incautos se atreverão a não dar ouvidos. Junto com o associativismo, o sindicalismo é um pilar do regime democrático, dar-lhe força e engrossá-lo com convicção neste momento constitui a melhor e indiscutível prova do nosso descontentamento com este governo. Juntos na rua estamos a enviar um sinal muito forte a este governo, vacilante e desnorteado.

Não há pessoas escolhidas para opinarem sobre a luta dos professores, era mesmo o que faltava. A situação é dramática, abrangente e as reivindicações apontam para o futuro. Vale a pena apostar no futuro, ter a visão de um país mais aberto, instruído, confiante e dono de si próprio. A coragem e determinação dos professores é contagiante, a sua luta diz-me respeito sim, não ficarei em casa.

Sobre o/a autor(a)

Bibliotecária aposentada. Activista do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
(...)