Maria Luísa Cabral

Maria Luísa Cabral

Bibliotecária aposentada. Activista do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990

Sem nenhuma espécie de aviso, sofremos um severo choque a 28 de Abril. Frágeis e sozinhos, provação desta dispensamos que se repita.

Fomos enumerando linhas vermelhas, a pressão dos dias atropelou-nos e nós pisámos as linhas vermelhas. Desta vez, a linha vermelha tem de ser entendida como intransponível.

Não fica bem assacar culpas aos outros pelos seus próprios desaires. É pouco decente, nada ético. E na falta destes princípios, o melhor mesmo é sair da frente. Veja-se o caso do primeiro-ministro quando se vitimiza e não assume a responsabilidade da sua própria conduta.

Para a direita, um princípio estar ou não inscrito na Constituição de 1976, a que nos rege, é indiferente. Para a direita até é desafiante testar a firmeza do que nela está escrito. A direita ri-se assim dos portugueses e vai medindo forças.

O SNS desceu a níveis impensáveis quer o comparemos com a vontade expressa pelos seus pais fundadores quer com os padrões que deveria apresentar como pilar do Estado Social. O que hoje temos é uma caricatura do que sonhámos, com a direita a solidificar as suas posições.

Os dias iguais uns aos outros sucedem-se, é difícil digerir tanto acontecimento nacional, manter o discernimento e fazer frente à direita. A violência das sucessivas declarações políticas são a sério ou apenas para nos afastar?

Fomos, somos um país de emigrantes. Partimos, sabemos e relembramos o que é, e foi, a diáspora. No imaginário colectivo, as partidas nas gares ferroviárias testemunham bem o drama que se viveu. Hoje o cenário é o aeroporto, o drama idêntico.

É cansativo estar sempre a bater na mesma tecla mas se tem de ser, que o seja. Acabamos de celebrar 50 anos do 25 de Abril e isto não é saudosismo. Se precisa de nome, é gratidão.

Valiosos equipamentos urbanos sofrem desmandos desnecessariamente. Uma autarquia com uma verdadeira política de cultura estaria atenta e interviria a tempo. Desta vez é a Livraria Férin, em pleno Chiado, que ameaça desaparecer.

A inclusão do IUC no Orçamento de Estado 24 parece o fim das nossas vidas. Será?