A não esquecer

porPedro Amaral

14 de junho 2024 - 22:06
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Parece-me importante percebermos que aquele mundo que consideramos como a maior das verdades se rege por forças completamente alheias à ciência.

Hoje trago apontamentos destes tempos que vivemos. Coisas que me parecem pertinentes deixar janelas para refletirmos.

O ponto mais chocante desta lista é a entrevista de Óscar Cardoso ao Correio da Manhã. No lead lê-se que este ex-agente da PIDE não via a atuação desta polícia como fazendo uso da tortura. Trata-se de algo impensável nos 50 anos do 25 de abril. Num vídeo que corre nas redes sociais, ouvem-se estas e outras barbaridades a serem ditas por quem teve uma pensão atribuída por Cavaco Silva (e recusada a Salgueiro Maia). O nosso repúdio deve ser total e evidente. É preciso nos insurgirmos contra este discurso.

Infelizmente, podemos esperar o branqueamento deste tipo de discurso na Assembleia da República, já que Aguiar-Branco se recusa a respeitar o regimento (e a Constituição).

O CH Açores propôs a caça ao rato. Esta tentativa da normalização da arma de fogo, a desresponsabilização da ação do Estado sobre um problema comunitário, são maus pronúncios que nos devem soar distópicos.

Um triste espetáculo da política portuguesa tem sido o experimentalismo da comunicação da Iniciativa Liberal nas redes sociais. Fazem vídeos de ataque pessoal, sem mencionar propostas, esvaziando o debate e estimulando o gosto pelo alimentar do ódio à política. Como se não bastasse, ainda consegue fazer uma apologia ao consumo do álcool.

Tem sido frequente a utilização das contas institucionais do Governo da República para fazer propaganda, luta partidária além da divulgação. Isso verifica-se nos avisos da CNE, mas facilmente se sente a vergonha em lê-lo em algumas publicações, tal como a do aeroporto. Esta é a demonstração de como temos um governo que abertamente governa a olhar para as eleições e não para o país.

Hossenfelder, uma física teórica alemã, que se tornou youtuber para fazer divulgação científica, publicou um vídeo onde critica o modo atual de fazer ciência. Parece-me importante percebermos que aquele mundo que consideramos como a maior das verdades se rege por forças completamente alheias à ciência. Precisamos de repensar a forma como olhamos a investigação, tanto nos laboratórios como na academia.

Ainda numa ótica do repensar, um economista que ganhou o Nobel, Angus Deaton, publicou um artigo em que «repensa a sua visão económica». Este pensador neoliberal atesta a falência da doutrina na sua tecnocracia, abandonando a ética, e levando às desigualdades e concentração de poder. É particularmente interessante ler o seu testemunho sobre os sindicatos, onde afirma a sua necessidade hoje para lidar com os abusos laborais.

Pedro Amaral
Sobre o/a autor(a)

Pedro Amaral

Natural da ilha de Santa Maria, estuda Filosofia no Porto. Membro da Comissão Coordenadora Regional dos Açores do Bloco de Esquerda.
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