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Nada menos exigente do que chumbar todos
Para fazer esta discussão é preciso antes desmontar os mitos que a rodeiam.
O primeiro é que é assim em todo o lado. Falso. Há apenas dois países em que crianças com esta idade fazem exames (Portugal e Áustria). Em muitos outros há provas de aferição, como acontecia em Portugal até Nuno Crato.
A semelhança entre uns e outros é que ambos aferem os conhecimentos dos alunos, as competências ensinadas por escolas e professores, e como é que estão a reagir. A diferença é que as provas de aferição aferem, os exames chumbam. As crianças sabem isso, como o sabem as escolas que passam os últimos dois meses não a ensinar, mas a preparar para o exame. O segundo mito é que, com exames ou sem exames, ninguém chumba em Portugal. Falso, tristemente falso. Portugal tem a terceira maior taxa de retenção dos alunos até aos 15 anos. Um em cada dez alunos, diz o Conselho Nacional de Educação, fica retido logo no 2.º ano. Ou seja, com sete anos já levam um ano de atraso. Não se pense que chumbar muito é ser mais exigente. Pelo contrário, é o mais fácil. Significa desistir, desde cedo, de quem tem dificuldades. É o triunfo da exclusão onde devia haver apoio e da desistência onde devia haver superação. Não há nada menos exigente do que chumbar toda a gente.
Terceiro mito. "No meu tempo, havia exame na quarta classe e sabia-se mais". Pois é. Mas o exame, na ditadura, tinha lugar na 4.ª classe porque este era o patamar máximo a que era permitido ao povo estudar. Era uma prova de exclusão. Quem não tinha dinheiro, quase todos, dificilmente voltava a ver uma escola. A democracia, felizmente, acabou com esses tempos e abriu a escola a toda a gente.
Este exame tem o efeito de seriação social que tem sido uma das imagens de marca de Nuno Crato. Do ensino dual para quem chumbou dois anos, ao fim do Inglês no primeiro ciclo para 65 mil crianças, ou à substituição do programa de Matemática - contra todos os pareceres, sem estudar impacto e sem nenhuma formação específica para os docentes. Crato não é exigente. É desistente. De uma escola que integra e não deixa nenhuma criança para trás. Que, pelo meio, os resultados que tanto evoluíram nos últimos anos comecem a dar sinais de regressão não é de estranhar.
Artigo publicado em “Jornal de Notícias” a 19 de maio de 2015
Comentários
Não é apanágio da minha parte
Não é apanágio da minha parte comentar um artigo, mas considero que neste caso o deva fazer, apenas e só porque estamos a falar da educação dos nossos filhos.
Politicamente, não tenho qualquer interesse pelo assunto, mas num contexto educacional, considero-o da maior relevância.
Não poderia deixar de estar de acordo com muitas situações que refere, mas jamais estarei de acordo com o sentido que dá ao seu artigo na qual refere que os exames levam as crianças a chumbar e desta forma mostrar a sua exigência.
Neste momento, da forma como se posicionam os exames em relação à totalidade do ano escolar, os exames são mais uma forma de reduzir o insucesso escolar. Vejamos a seguinte situação: Um aluno no final do ano tem 2 e no exame tem 2; este aluno chumba mas poderá ir à segunda fase e basta ter 3 no exame para passar. Todo um ano escolar foi esquecido para passar um aluno que não mostrou competências para transitar ( competências estas analisadas por vários professores e que foram desprezadas por um único exame). Contrariamente um aluno que teve 3 ao longo do ano não terá qualquer problema em transitar de ano mesmo que tenha negativa no exame.
Sendo a senhora uma pessoa formada em economia, saberá melhor que eu que hoje vivemos numa sociedade em que a competição favorece os que se encontram melhor adaptados e como tal testar para saber é uma necessidade. Devemos apenas e só, retirar dos resultados o que de positivo existe e não procurar só e apenas a sua parte negativa.
Trabalhar para melhorar é diferente de trabalhar para destruir.
Penso que é o terceiro ano
Penso que é o terceiro ano consecutivo. O meu filho fez há 2 anos. O primeiro exame do 4º ano foi também na segunda e não ontem (segunda Português, ontem Matemática).
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