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Na luta pelo clima, não esquecer o Interior
Quando falamos de alterações climáticas sabemos que se trata de um tema que não é novo para nós, pois estas continuam a ser um assunto da ordem do dia, sendo imperativa a luta que tem como propósito salvar o clima. O cenário que enfrentamos é cada vez mais caótico e avançamos em contrarrelógio nesta luta que começou tarde. Sabemos o porquê de continuarmos a lutar, pois exigimos soluções concretas, não nos deixando levar pela lenta e ineficaz transição que está a ter lugar numa lógica de “capitalismo verde”. Pois a resposta está sim assente em políticas de investimento público e de justiça social, que previnam esta catástrofe, tanto climática, como social. Porém, não nos podemos esquecer daquele que é o interior do país quando debatemos e lutamos contra a crise climática, pois aqui também é imperativo existir futuro.
Ao longo dos últimos anos temos vindo a observar que o interior tem sido deixado de lado em muito daquilo que são as políticas e preocupações de um país, a sua paisagem, território, pessoas e ambiente têm sido negligenciadas por uma visão que apenas continua a preservar o litoral e as grandes cidades e se esquece da riqueza de outros territórios. Por isso mesmo, quando falamos das exigências enquanto pessoas e ativistas climáticos, temos também que falar sobre aquilo que desejamos ver no Interior. Para tal, é preciso deixar de olhar para este como um sítio onde “vale tudo”, onde a ideia da “Mineração Verde” parece vender, quando na verdade a temos que desconstruir. É necessário combater a narrativa de que o lítio é essencial para a transição energética e para a descarbonização, já que na verdade este mito apenas serve para aumentar a existência de projetos de minas a céu aberto, em que o lítio é apenas uma pequena parte do bolo, pois outros minerais são explorados, caso do urânio, estanho, volfrâmio, etc. Para além disso, as minas comprometem o desenvolvimento sustentável das nossas regiões, já que afeta todos os ecossistemas, contaminando o ar e provocando assim problemas respiratórios. Para além disso temos o prejudicar dos solos e das águas que ficam poluídos com ácidos e metais pesados. A água é utilizada para o consumo humano, para a agricultura e na alimentação da pecuária, e estando a mesma imprópria e poluída faz com que a sua utilização seja impossível. Tanto a saúde das pessoas que moram nestes territórios, como da biodiversidade que ali existe sofrem de forma negativa com um capitalismo que, mais uma vez, não olha a meios para atingir os seus fins.
Outro ponto importante é a expansão de uma rede de transportes públicos que funcione nas principais cidades do interior, interligando capitais de distrito, aproximando-as entre si, mas que também as reaproxime daquele que é o mundo rural, tantas vezes isolado devido aos limitados acessos. Para isso, é necessário que exista uma integral renovação da ferrovia nacional no contexto da mobilidade internacional, passando esta ideia por requalificar as partes da mesma que estão hoje desativadas. Desta forma, seria de defender a concretização da ligação ferroviária Aveiro-Viseu-Mangualde, sendo a paragem por Viseu importantíssima, pois esta continua a ser uma capital de distrito onde o comboio não passa. Sem esta rede de transportes coletivos acessível, tanto em infraestruturas como em horários, para todas as pessoas o transporte individual continuará a ser a solução para que nos possamos deslocar, e com a crescente crise ambiental o individualismo tem que deixar de ter lugar.
A criação de um plano nacional florestal agrícola é também ele de se frisar, uma vez que este teria forma de nortear as atividades no mundo rural conforme as condições dos solos e da água existentes nestes locais, reduzindo assim a agricultura e pecuária intensivas, que estão dependentes de uma enorme quantidade de químicos e deslocação de lençóis de água. Assim sendo, conseguiríamos fomentar a produção local através de uma criação de mercados de proximidade que encurtariam os circuitos comerciais destes produtos, aumentando a capacidade local alimentar dos territórios do país. Neste ponto importa referir que ao se adequar as áreas florestais nacionais às condições climáticas dos dias de hoje (e também as futuras), apostaríamos na diversificação de espécies e na promoção de árvores autóctones. Aumentaríamos assim a resiliência face aos incêndios que todos os anos acorrem nas áreas rurais, e combateríamos as grandes extensões de monoculturas dominantes existentes.
Estes são apenas alguns dos pontos a falarmos e a exigirmos enquanto gente que quer um país onde o interior tenha lugar, onde o lucro não vale a danificação ambiental e a contínua degradação do nosso território, paisagens e terras. Quando se fala da vida de pessoas e de espécies não é o tudo ou nada. E quando falamos de clima, não esquecer o Interior.
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