Segundo informações veiculadas na comunicação social seria hoje entregue na Assembleia da República um conjunto de pretensões cujo objetivo não é outro senão voltar ao passado e impor, agora não pela força do hábito cultural, mas pela força da Lei, o desrespeito pela diferença, a intolerância e a homofobia próprias de sociedades ignorantes, arcaicas e bafientas.
A petição intitulada 'Defender o futuro', cujo primeiro proponente é Bagão Félix, pretende a revogação, entre outras, das leis sobre reprodução artificial, aborto, mudança de sexo, divórcio e casamento de pessoas do mesmo sexo. Para pelo menos 5.245 almas deste país a liberdade individual deve ser banida e penalizada.
Sente-se em cada ideia, em cada palavra, em cada vírgula desta petição um profundo saudosismo do velho Portugal. Do Portugal em que mulheres morriam em vãos de escada porque ousavam escolher não ter um filho, em que casamentos cinzentos, apagados e em muitos casos violentos se mantinham em prol das aparências e dos bons costumes, em que quem se enamorava por pessoas do mesmo sexo era votado à clandestinidade, ao escárnio e maldizer e escorraçado da sociedade, em que quem nascia no corpo errado era condenado a uma vida de infelicidade. “Ó tempo volta para trás” seria de facto, um título muito mais adequado para esta petição.
E embrulham todas as suas ideias mesquinhas e intolerantes num papel de “política responsável” e de, imagine-se (!), “solidariedade”. Defendem leis que “promovam uma verdadeira política de liberdade de escolha” desde que, evidentemente, não se trate de escolher por quem nos apaixonamos, com quem casamos, de quem nos divorciamos, ou, heresia das heresias, quem queremos ser. A liberdade, a igualdade, o respeito por todos e por cada um nas suas opções e nas suas escolhas individuais parecem ser ameaças à ideia perturbada de sociedade que revelam. Corroem o tecido social, dizem. E são um “mal social”.
Sente-se efetivamente em cada ideia, em cada palavra, em cada vírgula desta petição o peso do preconceito, a opressão da desigualdade, a tirania do autoritarismo e a pequenez de quem não tem melhor a fazer do que se arrogar o direito de comandar as escolhas e limitar a liberdade de cada um.
Quando um pouco por todo o mundo se vão derrubando as barreiras do conservadorismo e se abrem alas a sociedades mais justas, mais solidárias, mais livres e mais evoluídas, em Portugal, um grupo de espíritos tacanhos quer-nos de volta ao passado.
Temos pena caro Bagão Félix, mas o futuro é para a frente e os portugueses não querem voltar ao século XIX!
