Mesmo um protesto forte é ainda uma resposta fraca

porFrancisco Louçã

10 de janeiro 2013 - 21:00
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Em finais de Fevereiro, o governo estará a apresentar estas e outras propostas. Teremos então o momento da verdade desta frenética engenharia social para fazer as pessoas ganharem menos, trabalharem mais e viverem pior. Mas será também um tempo de verdade para as oposições.

O Secretário Moedas desentende-se com o Ministro Mota Soares, homem afoito que foi deu a cara pela operação TSU mas que agora tem medo que aí vem. O Ministro Crato, que teria a incumbência de despedir um terço dos professores, diz que sim e talvez. Outros ministros andam desorientados e o Primeiro, como de costume, desaparecido. O Ministro dos Estrangeiros fala de estágios para o turismo. Afinal, dirão todos, o relatório do FMI é só um bom conselho.

O problema é que o relatório é uma encomenda do governo, é a sábia palavra dos tutores de Portugal e, para mais, afirma peremptoriamente que não há alternativa à sua misericórdia. Baixar ainda mais os salários e despedir cem mil, incluindo 30 a 50 mil professores, aumentar a idade da reforma e cortar 15% nas pensões que estão acima dos 300 euros, converter os subsídios de férias e Natal em títulos para serem pagos quando o rei fizer anos, tudo para ir “Repensando o Estado”, o título pomposo do relatório.

Em finais de Fevereiro, o governo estará a apresentar estas e outras propostas. Miguel Relvas dirá que é inevitável, Paulo Portas que é para proteger as famílias, Vítor Gaspar que é duro mas vai fazer bem, Passos Coelho que estamos a recuperar e o Presidente que está preocupado.

Teremos então o momento da verdade desta frenética engenharia social para fazer as pessoas ganharem menos, trabalharem mais e viverem pior. Mas será também um tempo de verdade para as oposições. Por duas razões.

A primeira razão é que é precisa uma enorme luta de massas que determine a agenda política de cada semana, que não dê tréguas e que exija eleições, porque o PSD e o CDS só podem propor estas medidas violando a legitimidade eleitoral. Vai-se então ver quem arregaça as mangas e os fortes serão os que sabem também que a luta mais forte será fraca se não tiver uma alternativa forte.

E, por isso, a segunda razão para esse tempo de verdade é que não há nenhuma alternativa a estes cortes que não seja cortar na dívida. E aí está o paradoxo atual: o PS transformou-se num mero partido de protesto que protesta pouco e que não tem alternativa, porque se recusa a tocar no Memorando sagrado e na agiotagem. Mas se algo é claro é que só haverá governo de esquerda se estiver disposto a combater a chantagem da dívida.

Artigo publicado no jornal “Diário de Notícias” a 10 de janeiro de 2013

Francisco Louçã
Sobre o/a autor(a)

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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