Memórias LGBTQI+ na Palestina

porBeatriz Realinho

09 de julho 2024 - 22:41
PARTILHAR

Nos últimos meses temos visto imagens divulgadas por Israel de militares com a bandeira arco-íris com mensagens a dizer “em nome do amor”, com o único propósito de ocultar a limpeza étnica do povo palestino.

Desde 7 de Outubro que o mundo tem assistido a um escalar da violência do genocídio em curso na Palestina, que se sucedem a, pelo menos, 76 anos de barbárie por parte de um registo sionista e da extrema-direita Israelita. Israel continua, assim, a impor um regime de apartheid e de limpeza étnica do povo palestino, fazendo uso das lutas LGBTQI+ para justificar a ocupação do território da Palestina.

“Foi aqui que me apaixonei por ti pela primeira vez. Estávamos em 2021, no último grande bombardeamento israelita em Gaza. Nunca soubeste que foste a razão pela qual ouvi pela primeira vez as minhas bandas favoritas ou vi o filme ‘Portrait of a Lady on Fire’. Tudo volta a ti. Agora és um estudante no estrangeiro e as bombas da ocupação israelita podem levar todos e tudo o que alguma vez amaste. A tua mãe, a tua casa, as tuas memórias. Lamento tanto que o mundo te tenha falhado. Que a tua mãe, irmã e melhores amigos, tudo se tenha perdido neste genocídio.”

Este testemunho, de uma pessoa desconhecida a sul de Gaza, encontra-se no arquivo digital Queering the Map. Este arquivo serve como plataforma digital global que torna visível o invisível, pois dá a possibilidade de registar testemunhos, vivências, reivindicações, ações pelo mundo da população LGBTQI+. É na Palestina que este artigo se centra, e onde são contadas realidades vivenciadas por pessoas LGBTQI+ palestinianas que se opõem e combatem o silêncio do genocídio na Palestina. Encontramos também mensagens de esperança e solidariedade: “em solidariedade com todos os meus irmãos e irmãs palestinianos, todos vós sois amados. Palestina Livre!”.

Israel faz uso do pinkwashing para ocultar e legitimar os ataques e ofensivas de ocupação colonial sobre o território e o povo da Palestina. Este fenómeno não nos é desconhecido, uma vez que nos últimos anos temos visto crescer uma forte apropriação do movimento LGBTQI+ pelo mundo, por parte de empresas, instituições e países que não representam nem impulsionam direitos na lei e na sociedade para a população LGBTQI+. O pinkwashing ganha outra dimensão quando é utilizado como ferramenta colonial de Israel para fazer passar uma imagem, que é falsa, de um estado progressista e tolerante, ao mesma tempo que continua a matar e a oprimir palestinianos, sejam eles LGBTQI+ ou não.

Existem coletivos e associações palestinianas que têm feito trabalho junto da população LGBTQI+ pela sua libertação e pela libertação da Palestina, pois nenhuma poderá ser livre sem a outra o ser também. alQaws é um exemplo de uma dessas mesmas associações que trabalha pela diversidade sexual e de género na sociedade Palestiniana. Está organizada na sociedade civil pelo ativismo de base que constrói comunidades LGBTQI+, promovendo ideias sobre o papel do género e da diversidade sexual no ativismo político, nas instituições e na sociedade, pelos meios de comunicação social e vida em coletivo. Também o BDS – Boicote, Desinvestimento e Sanções tem organizado blocos pela Palestina nas marchas do orgulho em diversos países, incluindo em Portugal, com o nome Queers for Palestine. Um outro projeto que tem sido desenvolvido por pessoas LGBTQI+ palestinianas é o Queers in Palestine organizado por “trabalhadores, estudantes, agricultores, pais – como palestinos, como palestinos queer”, que têm como propósito exigir a libertação das pessoas queer da Palestina. As suas reivindicações passam por:

  • Rejeição do financiamento israelense, recusar colaborações com todas as instituições israelitas e juntar ao movimento BDS;
  • Realização de greves como recusa que o trabalho seja usado para silenciar o ativismo palestino ou para financiar e apoiar a colonização militar e o genocídio;
  • Recuperar a narrativa e estabelecer os termos da conversa sobre a Palestina;
  • Exigir o cessar-fogo como primeiro passo para a responsabilização de Israel pelos seus crimes contra a humanidade;
  • Fazer pressão junto dos Governos de cada país, exigindo o reconhecimento do Estado da Palestina, e o fim do apoio militar, diplomático e político a Israel.

Nos últimos meses temos visto imagens divulgadas por Israel de militares com a bandeira arco-íris com mensagens a dizer “em nome do amor”, com o único propósito de ocultar a limpeza étnica do povo palestino. Estas mensagens mostram como Israel não irá permitir a libertação da população LGBTQI+ se esta não for acompanhada de um projeto genocida e colonial. Enquanto movimento LGBTQI+ temos que lutar contra esta narrativa e reivindicar uma Palestina livre do colonialismo, do patriarcado e do pinkwashing. A nossa luta pela libertação LGBTQI+ só se fará com a luta por uma Palestina livre!

Links dos sites mencionados:

Queering the Map - https://www.queeringthemap.com

alQaws - http://alqaws.org/siteEn/index

Queers in Palestine - https://queersinpalestine.noblogs.org/uma-exigencia-libertadora-dos-queers-da-palestina/

BDS Movement - https://bdsmovement.net/pt/tags/queers-for-palestine

Beatriz Realinho
Sobre o/a autor(a)

Beatriz Realinho

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais. Ativista política e das causas LGBTQIAP+, ambientais e feministas. Autora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”
Termos relacionados: