Muitos, tal como eu, estão fartos de ouvir falar da crise da habitação em Portugal. Não porque seja um tema repetido em demasia, mas porque, apesar de ser constantemente debatido, pouco ou nada foi feito pelos nossos governantes. Estes têm-se revelado incapazes de mitigar os efeitos devastadores que esta crise está a ter no país e, em particular, na Madeira, caso que passo agora a analisar.
No Funchal, com o seu belo anfiteatro voltado para o mar e os picos montanhosos como pano de fundo, a cidade tornou-se um alvo cobiçado por grandes investidores. Atualmente, é a segunda cidade mais cara do país para arrendar um quarto, com um valor médio de 400€ mensais, apenas ultrapassada por Lisboa. No que toca ao arrendamento de habitações completas, as rendas médias rondam os 1200€ por mês, representando um aumento de 35% em relação a 2022, numa região onde o salário mínimo regional é de apenas 850€. De um lado, vemos desaparecer Jovens que imigram, a habitação a preços acessíveis para o trabalhador madeirense. Do outro, cresce a oferta de empreendimentos de luxo, que servem, na maioria das vezes, apenas para especulação imobiliária. Muitas dessas propriedades são adquiridas por estrangeiros endinheirados, que raramente passam tempo na ilha, mas que fazem subir os preços das casas de forma insustentável. Já nos habituámos a ver projetos com nomes pomposos e, de certa forma, ridículos, como "Dubai", onde torres de luxo se apoderam das nossas terras, com a óbvia conivência da direita, nomeadamente do PSD e CDS, que dominam a maioria dos municípios e o Governo Regional, com o apoio dos partidos que os sustentam. Está mais do que claro: a direita tem-se comportado como uma casa de leilões, vendendo o que é público ao melhor preço, muitas vezes em segredo, para que a população só perceba o que está a acontecer quando já é tarde demais para travar as obras. Enquanto isso, vemos cada vez mais pessoas despejadas, dando lugar ao alojamento local (AL) ou a rendas milionárias na "Madeira tão tua" (slogan do turismo da RAM).
Parece que este slogan se dirige, afinal, aos grandes senhores que fazem milhões de forma imoral na nossa ilha. Algo como: "Vem descobrir e especular na Madeira, que se pagares bem, pode ser 'tão tua'". Infelizmente, na Assembleia Legislativa da Madeira, a oposição está reduzida ao JPP e ao PS — sendo que este último é, em parte, responsável pela crise que o país enfrenta. Quando o Bloco de Esquerda esteve presente na ALRAM, falou e lutou incansavelmente por limites às rendas, mas a direita gritou, esperneou, e opôs-se. Não se pode tocar no lucro dos senhorios, isto é, no lucro deles. Não podemos impor limites ao alojamento local, porque a direita não quer que se restrinja o lucro dos empresários — o lucro deles. Não tenhamos ilusões: muitas das propostas do Bloco para melhorar a vida da população são travadas pela direita, porque isso afetaria os SEUS lucros, sempre em detrimento do bem-estar da maioria. Para o PSD, CDS, IL e Chega, a luta é pelo lucro, mesmo que esse lucro seja imoral, mesmo que seja feito sobre a desgraça de milhares de pessoas que, mesmo trabalhando, vivem com a corda ao pescoço. Mas a nossa luta é outra. A nossa luta é para que a Madeira seja "tão nossa". Para que os trabalhadores madeirenses, e não apenas os privilegiados, possam viver e usufruir do paraíso natural que é esta ilha. Lutamos por uma Madeira onde todos tenham direito a uma habitação digna, onde o lucro de uma minoria não esteja acima da dignidade de todos. Lutamos por justiça, por igualdade, e por um futuro em que a Madeira seja verdadeiramente para quem nela vive e trabalha, e não apenas para quem pode comprar o seu pedaço de paraíso à custa da miséria dos outros. Queremos, sim, que a Madeira se desenvolva e lucre, desde que esse crescimento se reflita na qualidade de vida daqueles que aqui vivem e, por isso mesmo, é hora de nos unirmos, de nos levantarmos, e de defendermos os nossos direitos. É hora de fazermos da Madeira "tão nossa".