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A Madeira aprisionada pela irresponsabilidade

Abro os jornais de hoje da Madeira e leio. O Diário de Notícias (do Funchal) garante que cada agricultor vai receber um prémio, que pode chegar a mil euros num ano, pelo seu trabalho no contributo para a paisagem. Escreve ainda o DN que "O Pavilhão da Escola Secundária Francisco Franco é novo e já mete água". Em contrapartida, uma boa notícia: há um "almoço na Quinta Vigia (sede do Governo Regional) só para deputados do PSD".

O Jornal da Madeira cita o presidente do governo regional: na inauguração de casas em Água de Pena, Alberto João Jardim garante que 20% das habitações existentes na Madeira "são do Governo Regional ou tiveram uma intervenção pública". Jardim tem por isso todas as razões para se irritar com quem não compreende a sua generosidade. Incluindo, diz agora, alguns dos seus colegas da direita: numa entrevista à Lusa, vitupera os "solilóquios dos meninos queques" de Lisboa, aparentemente numa alusão à proposta de Santana Lopes de "uma reformulação inevitável do centro-direita" e à ofensiva de Paulo Portas dentro do CDS.

Descansem os leitores: a campanha madeirense não será queque e haverá pelo menos uma inauguração por dia até ao domingo do voto nas eleições regionais. Sempre com bandeiras do PSD e com discursos inflamados contra os adversários eleitorais. A Madeira está assim refém da irresponsabilidade. Haverá mil euros para cada agricultor. Haverá promessas para todos. O plebiscito é a vez de Alberto João Jardim.

Essa irresponsabilidade é partilhada, entendamo-nos. Partilhada pelo Governo Guterres, que pagou toda a conta da dívida de Jardim sem perguntar pelas facturas. Partilhada pelo Governo Sócrates, que impôs uma nova lei para reduzir os fundos regionais, mantendo uma farsa que é o cálculo do produto interno da região considerando os negócios da zona franca, que não criam emprego, não pagam impostos e são portanto dinheiro virtual. Partilhada por Alberto João Jardim, que gasta sem controlo nem regras, que protege os amigos e as famílias.

Ao agendar para o plenário da Assembleia da Republica uma lei obrigando os deputados regionais a cumprirem a regra aplicável em todo o país - excepto até agora na Madeira - definindo as incompatibilidades que o proíbem de ter contratos com o governo, o Bloco pretende acabar, em nome da transparência, o princípio da cumplicidade e da subsidio-dependência dos deputados em relação a Jardim.

Para isso, o Bloco de Esquerda apresenta uma candidatura que defende a autonomia responsável: autonomia porque responde em nome da democracia a toda a tutela inaceitável, razão pela qual rejeitou a lei das finanças regionais, e responsável porque quer mudar as condições de vida e os direitos sociais da população trabalhadora da Madeira e por isso se confronta com o seu governo regional e com as políticas locais e nacionais que prejudicam o emprego ou o direito à saúde. O Bloco será por isso a força combativa de que a esquerda precisa para criar uma alternativa. A questão social, da vida das pessoas, do desemprego, do desperdício, do autoritarismo, da deficiência dos serviços de saúde, do abandono escolar, essa questão é a que vai decidir o resultado das eleições.

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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