O desembarque de imigrantes magrebinos na costa algarvia desencadeou as mais espantosas reacções de medo. A Marinha veio imediatamente assegurar que era um caso excepcional mas muito grave. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras acrescentou que era caso único e que não era de temer que viesse aí a invasão. Paulo Portas, tão parecido com Manuel Monteiro, veio apelar ao governo para criar barreiras policiais mais vigilantes. E o governo suspirou de alívio quando se percebeu que o barco estava perdido e que só queria ir para Espanha. José Sócrates, sabe-se lá porquê, veio dizer que este caso era um aviso a toda a União Europeia - na verdade, casos destes acontecem todos os dias noutros países com Espanha e Itália e não têm nada de solene, são simplesmente histórias da desgraça e do sacrifício por uma vida melhor.
O Bloco de Esquerda foi o único partido a tomar uma atitude concreta de solidariedade com os imigrantes. O deputado António Chora visitou-os no centro de detenção do aeroporto de Faro, poucas horas depois de terem desembarcado, para conhecer a sua história e para tomar uma posição de defesa dos direitos humanos essenciais. Porque a imigração é um direito humano.
A hipocrisia dos governos europeus pretende tratar a questão como um caso de polícia, como se fossem perigosos criminosos a invadir um país que lhes é estanho. A hipocrisia acrescenta que há que tratar com os governos locais, que há que criar "desenvolvimento" para fixar as populações. Há que fazer tudo o que não querem fazer - os governos europeus preferem sempre tratar com os regimes autoritários, com os magnates do petróleo, com os títeres que fazem bons negócios.
Mas o que estes imigrantes nos dizem é o contrário. Que querem viver, trabalhar, ser felizes, ter uma oportunidade. Têm direito a essa oportunidade.