Os trabalhadores querem que se cumpra um dos direitos consagrados no Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) – o pagamento integral do trabalho em dias feriados e trabalho complementar. A administração do Global Media, dona do Diário de Noticias, Jornal de Notícias, e O Jogo, recusa-se a pagar. Só está disposta a pagar 50 por cento a mais pelos dias feriados, e não os 200 por cento e direito a um dia de folga que determina o CCT. Por isso, e de acordo com o Sindicato dos Jornalistas, na passada sexta-feira a redação do JN esteve reduzida a duas pessoas no Porto e outras duas em Lisboa. No caso de O Jogo, metade da redação do Porto fez greve enquanto em Lisboa apenas dois dos dez jornalistas estiveram a trabalhar.
Os trabalhadores querem que se cumpra um dos direitos consagrados no CCT – o pagamento integral do trabalho em dias feriados e trabalho complementar. Um novo CCT está ainda a ser negociado mas a administração do Global Media Group já esta a aplicar as regras que quer unilateralmente
A redação do DN tentou negociar e apresentou uma contra proposta, para compensar em tempo o trabalho que a administração recusa pagar: aceitariam os 50 por cento e dois dias de folga por cada feriado. A administração tem agora uma semana para responder à contraproposta dos trabalhadores, ou novas formas de luta serão pensadas.
O trabalho suplementar prestado por jornalistas nos feriados de 1 de Janeiro e 17 de Fevereiro de 2015 também não foi pago de acordo com o estipulado no CTT e a decisão foi de avançar para a greve, apoiada pelo Sindicato dos Jornalistas. Um novo CCT está ainda a ser negociado mas a administração do Global Media Group já esta a aplicar as regras que quer unilateralmente.
Porque é que esta greve é importante e porque é que esta forte adesão tem um claro significado?
Recorde-se que em Junho passado a Controlinveste, dona do JN, DN, O Jogo e TSF, anunciou a saída de 160 pessoas do grupo, 140 através de um despedimento coletivo em consequência de cortes de 11 milhões ao ano. Três meses antes, por decisão da então nova administração, encabeçada por Daniel Proença de Carvalho, já tinham cortado 5,5 milhões de euros no orçamento. Nessa altura, entre aqueles que chegaram a acordo e os despedidos coletivamente o grupo ficou sem 180 trabalhadores. Cerca de 70 eram jornalistas e os restantes trabalhavam em áreas não editoriais.
A greve da passada sexta-feira e domingo é, neste contexto, um sinal de resistência que julgo que deve ser realçado. Mostra-nos que quem ficou, quem esteve no olho do furacão e consegue sobreviver, dia após dia, não baixou os braços
As redações estavam já debilitadas pelo despedimento coletivo de 2009, e tentavam sobreviver-lhe, mas Daniel Proença de Carvalho, justificava que, as medidas anunciadas, embora “dolorosas”, eram “indispensáveis” para que o grupo pudesse crescer. Meses volvidos e esta justificação torna-se ainda mais irreal. Creio que o grupo se “reestruturou”, sim. Mas à custa dos seus próprios sacrifícios e debilidades, nas publicações e de quem nelas trabalha. Mudaram-se chefias, dispensaram-se jornalistas e técnicos cujo know-how é indispensável, mirrou-se na capacidade de resposta à realidade, por parte de publicação. A sangria de despedimentos colocou alguns dos títulos a viver diariamente no fio da navalha. Digo-o, não porque alguém mo disse, mas porque todos os dias o constato.
A greve da passada sexta-feira e domingo é, neste contexto, um sinal de resistência que julgo que deve ser realçado. Mostra-nos que quem ficou, quem esteve no olho do furacão e consegue sobreviver, dia após dia, não baixou os braços. Continua a lutar. E, num contexto que convida à mais simples apatia, à desistência, à resignação, perante um futuro cada vez mais negro do jornalismo, não deixa de ser um sopro de vida. É pouco, sim, será. É um sinal que nos merece grande respeito. Completamente.
Uma leitura cínica sobre esta situação tenderia a dizer que os que ficaram no grupo são os que vergaram à administração e aos pequenos poderes, os que “se safaram”, os que negociaram por baixo, quando as cabeças dos restantes rolaram. A leitura que faço é de resistência. E de que as lutas se fazem todos os dias, na solidariedade dos que ficam para com os que saem, que continuam a reivindicar por direitos, mesmo sabendo que a sua cabeça também está por um fio.
Marilu Santana é outro rosto de uma luta, que esta semana nos traz algum alento
16 dias acorrentada a uma escada, em protesto, esta trabalhadora do Clube Praia da Rocha, no concelho de Portimão, irá finalmente receber os salários em atraso a quem tem direito, e com ela outros 15 trabalhadores do grupo. O administrador cedeu, e assinou um acordo escrito comprometendo-se ao pagamento dos salários. O Bloco esteve sempre presente e solidário junto desta trabalhadora e dos restantes que veem agora os seus direitos respeitados.
