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Liberté

Olhando para o mapa europeu dos direitos LGBT parece que vivemos ainda no tempo das trevas. Que a França, país das luzes e da revolução, se tenha finalmente decidido a iluminar mais um pedaço deste escuro mapa é motivo para toda a Europa festejar os direitos conquistados.

Olhando para o mapa europeu dos direitos LGBT parece que vivemos ainda no tempo das trevas. Na maior parte dos países, o casamento e a adoção por homossexuais são no máximo uma miragem de um tempo que há-de vir, em que o amor e as relações humanas não sejam formatados pela violência legal.

No debate que antecipou a aprovação do casamento gay em França, o expoente anedótico da posição conservadora foi expresso pela líder democrata-cristã Christine Boutin quando afirmou que "os homossexuais podem obviamente casar-se, [desde que] com alguém de outro sexo". A anedota encerra em si toda a violência com que o conservadorismo fere a vida de todos os que escapam ao controlo das suas bafientas doutrinas.

Mas quando chega o tempo de mais uma vitória do progresso, e não já não há igreja nem lei que abafe o grito de liberdade, os conservadores e muitos conciliadores liberais dão asas à criatividade para atrapalhar o futuro que quer chegar: casamento sem adoção, direitos pela metade, adoção sem casamento, “don’t ask, don’t tell”, “união civil” ou “partenariado”, “piaçaba” ou “vrrnheic”… direitos de segunda para cidadãos de segunda.

O problema sério surge quando o tal grito de liberdade é calado à bastonada. Quando o domínio dos poderosos no Estado se mantém com a força das instituições conservadoras e religiosas na sociedade. O novo czarismo da Rússia é um exemplo acabado disso. A proibição das manifestações pelos direitos LGBT, a prisão das ativistas Pussy Riot como um sinal para todos os subversivos, a proibição de tudo o que possa ser considerado “propaganda gay” é um enorme passo no regresso às trevas… ingénuo seria pensar que a destruição das liberdades vai ficar por aqui.

Que a França, país das luzes e da revolução, se tenha finalmente decidido a iluminar mais um pedaço deste escuro mapa é motivo para toda a Europa festejar os direitos conquistados. A aprovação do casamento homossexual ficou garantida pela votação do primeiro artigo da lei sobre direitos LGBT. Ficamos à espera do capítulo da adoção.

De batalha em batalha avançamos as vitórias legais, passos de um caminho que só acaba quando todas e todos formos realmente livres.

Sobre o/a autor(a)

Deputada e dirigente do Bloco de Esquerda, licenciada em relações internacionais.
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