Levar a saúde das pessoas a sério

porTânia Russo

01 de junho 2023 - 0:09
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Há uma luta a fazer pelo SNS, que tem de ser feita, lado a lado, por cidadãos e cidadãs e por todos os profissionais de saúde, na rua, com alegria, no dia 3 de junho e em todos os dias das nossas vidas.

O Serviço Nacional de Saúde atravessa hoje um momento extremamente difícil. Estamos a assistir ao seu desmantelamento e à deliberada perda de capacidade de resposta, para que os filões mais lucrativos sejam entregues à saúde privada.

O primeiro-ministro António Costa garantiu que até 2017 todas e todos teriam médico de família. Desde então, o problema só se agravou e hoje 1 milhão e 700 mil cidadãos não têm equipa de saúde familiar. O Governo já deitou a toalha ao chão e desistiu desta promessa. Qual é a solução do Governo?

Abrir centenas de vagas para médicos de família que se sabe desde logo que ficam vazias, porque as condições não são atrativas. Assim tem sido nos últimos anos. Assim está a acontecer no atual concurso para médicos de Medicina Geral e Familiar, em que 70% das vagas ficam por preencher. O Ministério da Saúde nem sequer consegue contratar todos os médicos que terminaram agora a sua especialidade, que já escolheram ir trabalhar para fora do SNS. São oportunidades que o serviço público de saúde perde. São mais cidadãos e cidadãs que não têm acesso a médico de família. Entretanto, as CUF’s deste país oferecem médico de família… mas só a quem pode pagar.

O ministro da Saúde e o CEO têm-nos apresentado soluções sob uma capa de reforma inovadora, que não são mais do que pensos rápidos para um problema que é crónico: a falta de profissionais no SNS. Qual é a solução do Governo?

Encerrar urgências e reduzir camas para esconder a falta de médicos, em vez de criar condições para que estes queiram ficar no SNS. E, ao mesmo tempo, deixar milhares de pessoas sem saberem onde recorrer quando estão doentes e grávidas a terem de percorrer centenas de quilómetros para serem atendidas.

Desde 2011, os médicos perderam quase 20% do poder de compra. Mas acrescentaram horas de trabalho e horas de urgência. Há médicos a fazer mais de 700 e até mais de mil horas extra por ano, o que representa mais 4 a 6 meses de trabalho por ano. Qual é a solução do Governo?

Gastar mais dinheiro em horas extra que os profissionais já não aguentam, em vez de contratarem mais médicos para os quadros com melhores salários. Os 125 milhões de euros que o Estado gastou em 2020 com horas extra dariam para contratar mais de 3100 médicos na base da carreira.

Depois do encerramento de blocos de partos, há poucos dias o Ministro Manuel Pizarro veio anunciar a contratualização de partos com os privados. O Ministro não escolheu a solução mais óbvia, que seria aumentar salários para fixar médicos nas equipas do SNS. O que o Governo escolheu foi alimentar ainda mais os grupos privados à custa do SNS. Já não dá para disfarçar esta agenda privatizadora do PS e da direita.

No Bloco de Esquerda não queremos a solução liberal do PS e da direita. Não queremos um SNS de serviços mínimos para quem não pode pagar o privado.

Defendemos um SNS forte, um SNS de qualidade, para todos e todas. Um SNS que leve o país a sério, que leve a saúde das pessoas a sério. Um SNS que valorize todos os seus profissionais, para estancar a sangria para os privados. Com carreiras atrativas, com dedicação exclusiva devidamente remunerada, com salários dignos, com horários justos que permitam ter tempo para os utentes, mas também para a família, para os amigos, para ser mãe e pai, para a cultura e lazer, para ter uma vida boa.

Há uma luta a fazer pelo SNS, à qual o Bloco de Esquerda não faltará, como nunca faltou. E esta luta tem de ser feita lado a lado pelos cidadãos e cidadãs deste país e por todos os profissionais de saúde, na rua, com alegria, no dia 3 de junho e em todos os dias das nossas vidas, por um SNS que é nosso.

Por um Serviço Nacional de Saúde que responda às pessoas e que não deixe ninguém para trás.

Tânia Russo
Sobre o/a autor(a)

Tânia Russo

Médica e dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul
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