A questão dos rendimentos de quem trabalha ou já trabalhou (salários; pensões e impostos) sempre foi central na luta por uma vida com menos desigualdades e melhores condições para podermos encarar o nosso quotidiano com alguma esperança.
Vivemos há relativamente bem pouco tempo uma crise financeira que nos trouxe pelas mãos da direita a “receita” da austeridade e do empobrecimento, e nos empurrou para níveis de sofrimento e miséria inaceitáveis. Lembramo-nos sem saudade dos tempos da Tróika no governo.
Lutámos durante alguns anos contra essa política nas empresas, no parlamento e muitas vezes na Rua, fomos persistentes, corajosos e não desistimos até conseguirmos mudar o jogo a nosso favor.
Tivemos audácia, em 2015, para com um entendimento de mínimos à esquerda encetarmos um caminho de recuperação de rendimentos e direitos, que não chegou a bom porto nas matérias laborais por responsabilidade de quem era governo, mas que nestas matérias não teve o golpe de asa para “retirar a Troika do Código do Trabalho”. Foi uma lamentável escolha assumida pelo governo do PS, sempre com o apoio da direita.
Não ignoramos os avanços que o Salário Mínimo Nacional (SMN) sofreu por pressão das reivindicações e luta dos trabalhadores e a nível político dos parceiros de esquerda na chamada geringonça. Foi uma importante, embora insuficiente, melhoria.
Hoje vivemos tempos de maioria absoluta, que nunca nos trouxe bons resultados e de que guardamos má memoria.
É certo que nos prometem o “mel” do PRR e dos Fundos Comunitários 2030 para ultrapassarmos os efeitos gerados na economia nacional resultantes da Covid 19, mas como sabemos não basta retórica política, é preciso concretizar na prática o que se apregoa.
Vem tudo isto a propósito ou despropósito de como vamos travar mais uma batalha, agora contra o galope da inflação e dos seus nefastos efeitos nas nossas vidas.
Não bastava a crise pandémica a que agora se associa a guerra, para sermos castigados com a volta da inflação a valores que nos fazem recuar aos anos de 1990. É o chamado efeito “dois em um”.
Deixarei para os economistas e outos especialistas, as explicações técnicas das causas da inflação, embora já todos tenhamos ouvido e lido sobre o assunto e sentido na “carteira” os seus efeitos.
Partilho antes as minhas inquietações, quando oiço o primeiro-ministro e ministros vários dizerem no debate do Programa do Governo e no “lançamento” do Orçamento de Estado para 2022 que se recusam a mexer nos salários e pensões, sabendo bem que a sua posição se traduz num evidente engolir dos rendimentos dos trabalhadores pela inflação, ao mesmo tempo que não atuam no controle dos preços de bens essenciais e não taxam os “lucros que caiem do céu” a empresas como a EDP, GALP, Continente ou Pingo Doce.
Aqui chegados, sou favorável a que se construa movimento social e popular que se oponha à inércia do governo em mexer nos rendimentos dos trabalhadores e sem esperar pelo Orçamento de Estado, tomemos as praças e as ruas em protesto contra esta brutal desvalorização dos salários e pensões.
Articular e agilizar as lutas é um imperativo da Esquerda e das organizações socio-laborais. Vamos fazê-lo!
