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A importância da indústria para a saída da crise

A defesa do Estado Social passa também por manter e criar emprego na indústria, que continua a ser uma força motriz em cada país, na Europa e no mundo.

Sem querer ser exaustivo na abordagem dum tema tão complexo creio necessário neste tempo de austeridade e desemprego, refletir sobre as razões da importância da indústria como uma das vias para uma saída da crise a favor dos que vivem do trabalho.

Nesta era pós-industrial em que vivemos, onde as tecnologias de informação, os serviços de elevado valor são considerados motores do crescimento, importa salientar que o volume de emprego que criam é reduzido, se comparado com os postos de trabalho que da indústria transformadora podem resultar, quando exista uma política de desenvolvimento que tenha em conta a economia real e não uma economia de casino e não descure a sustentabilidade ambiental.

É na indústria que os trabalhadores com aptidões médias podem ter emprego estável e com direitos. É neste sector que as classes médias ganham forma e crescem. É também aqui que os jovens, da geração mais bem preparada de Portugal, podem ter o seu lugar.

Não havendo uma base produtiva sólida e com vigor, o fosso entre os ricos e pobres cresce, aumentando as diferenças entre aqueles que têm emprego estável e mais ou menos bem remunerado e os outros cujo emprego é menos seguro e as suas vidas se tornam mais precárias.

É sem dúvida um problema da atual democracia, para onde o capital e os governos austeritários ao seu serviço, nos querem empurrar.

A defesa do Estado Social, como fator de progresso nas suas componentes da saúde, educação e segurança social, passa também por manter e criar emprego na indústria, que continua a ser uma força motriz em cada País, na Europa e no Mundo.

Não esquecemos a política de “ terra queimada “ que os diversos governos do PS, PSD/CDS, tiveram no desmantelamento da Metalomecânica Pesada, Siderurgia Nacional, Industria Naval, Química de Base, Farmacêutica. Acrescido das muitas deslocalizações ocorridas no sector do Material Elétrico e do fecho das Minas.

O atual Presidente da Republica, não pode vir agora “ sacudir a água do capote “pois nos dez anos em que foi 1º Ministro conduziu o abate das frotas pesqueiras e comercial e a liquidação da agricultura. A hipocrisia devia ter limites.

Exigimos medidas para o crescimento da economia que abandone os projetos de privatizações de empresas estratégicas e pelo contrário se estabeleça um programa de desenvolvimento do tecido produtivo português que inclua, a recuperação do sector agrícola, piscatório e industrial. É aqui que os empregos se criam e desta forma se dá combate ao desemprego crescente que afeta já mais de 1.200.000 de homens e mulheres deste País.

Não podemos aceitar que em Portugal, em nome da globalização e agora da crise, se continue a nada se fazer de concreto como por exemplo no sector da construção e montagem automóvel, criando um verdadeiro cluster, apoiado maioritariamente em empresas nacionais, que aumente o nível de emprego e eleve o patamar tecnológico do sector.

Quanto à reparação automóvel, que é dos setores onde os efeitos da crise mais rapidamente chega, todos o sabemos, é urgente exigir ao governo a tomada de medidas que salvaguardem os atuais postos de trabalho.

Em boa hora a Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, promove um Encontro de Representantes dos trabalhadores no próximo dia 30 de Maio, em Palmela, onde se abordará a situação do sector e experiências na resposta à precariedade e manutenção do emprego.

No fundo é preciso retomar o equilíbrio entre a estrutura produtiva da economia e a sua força de trabalho.

Para que isso aconteça é necessário dar combate às atuais políticas que sob o tacão da Alemanha da “Kaiser” Merkel, impõe medidas austeritárias que levam empobrecimento das classes trabalhadoras em toda a Europa e muito especialmente na Grécia, Irlanda e Portugal, onde a troika FMI-CE-BCE dita as leis, sendo que o seu fantasma já ameaça claramente a Espanha.

As duras lutas que têm sido travadas em cada País são da maior importância para resistir a este imenso ataque aos salários, reformas e direitos das pessoas.

Por isso em Portugal no dia 22 de Março de 2012 fizemos uma nova Greve Geral, num contexto de dificuldade superior à que realizámos em 24 de Novembro/2011. Foi no entanto um momento importante de combate. Dias 9 e 16 de Junho no Porto e Lisboa respetivamente, vamos uma vez mais sair à rua e dizer basta a este regime austeritário que nos querem impor à força.

Temos de construir muito rapidamente um dia de luta sindical europeu contra a austeridade como se apontou no dia 1 de Outubro de 2011 em Londres na Conferência contra a austeridade, cortes e privatizações.

No entanto para fazer face a esta ofensiva brutal e global do capital a resposta tem de ser cada vez mais articulada ao nível nacional, europeu e mundial, respeitando agendas, mas procurando juntar o movimento sindical com os outros movimentos sociais.

As eleições de 17 Junho na Grécia, com a vitória da SYRIZA, podem ser decisivas para também cá, alterar a correlação de forças a favor das pessoas contra a Troika e sermos capazes de trazer justiça e democracia à economia e de criar emprego.

É preciso derrotar esta política de austeridade.

Sobre o/a autor(a)

Sindicalista, ex- Conselheiro Nacional da CGTP
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