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Hoje é o primeiro dia do resto da nossa vida

A voz activa, de todos os que estiveram ontem na rua, deixou uma mensagem clara: são mais que um recibo, que um número estatístico...

No sábado, foram centenas de milhares os que trocaram a sua habitual rotina de fim-de-semana, pela presença numa das 10 manifestações da Geração à Rasca. 200.000 em Lisboa, 80.000 no Porto, e outros tantos, nas restantes demonstrações que germinaram por todo o país.

Uma avalanche cidadã de precários, trabalhadores, estudantes, estudantes-trabalhadores, desempregados e pensionistas invadiu as ruas do país para afirmarem que não serão mais cúmplices silenciosos da coligação dos PEC’s e da sua economia do desastre.

Foi com cor e alegria que uma geração mobilizou um país cansado da austeridade e farto das falsas promessas, de uma elite dirigente, órfã de um projecto de futuro para a sociedade portuguesa.

Quem esteve presente neste dia, sabe que o descontentamento se dirigiu ao PS e ao PSD - por mais que se tenham feito desentendidos - e percebeu que o preço a ser pago por quem governa contra os seus cidadãos, será elevado.

A voz activa, de todos os que estiveram ontem na rua, deixou uma mensagem clara: são mais que um recibo, que um número estatístico, que um processo na Segurança-Social, nos Serviços de Acção Social ou nas Finanças e acima de tudo, bem mais que uma despesa corrente do aparelho de Estado.

Foi assim que todos se apresentaram ontem, dispostos a fazer parte de uma história de um país que têm como o deles, que o futuro se escreve no presente, e que não esperarão por começar a viver no aparente e localizado fim da crise, pois, “amanhã é sempre longe demais”. E se a apresentação pública da geração à rasca foi memorável, os passos futuros da mesma serão ainda mais.

Entre todas as reivindicações, ficou patente um “basta!”. Basta de desemprego, basta de cortes nos apoios sociais, basta de privatizações, basta de precariedade, basta de brincar com as nossas vidas. Outros valores se terão que levantar, só a pequenez e o cinismo se ficam pela governação da inevitabilidade, por não procurarem soluções para além das fronteiras do status quo. E isso, este amplo movimento que se constituiu, sabe que é pouco, e é por isso que se continuará a levantar por uma economia que os inclua para além da despesa e da factura.

A 19 de Março estaremos de novo em Lisboa e no dia do Estudante (24 de Março) voltaremos a fazer-nos ouvir. A agenda é por enquanto incerta, mas estamos conscientes, que esta geração, este povo, não ficará mais sentada na passividade e que entre ontem e hoje acordamos para o primeiro dia da nossa vida.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Sociólogo.
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