Haverá razões para a greve geral?

porAntónio Chora

07 de novembro 2011 - 0:32
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Apercebo-me que a estratégia de levar as pessoas a verem como uma inevitabilidade as medidas governamentais, está a confundi-las.

Conversando com trabalhadores, homens e mulheres, jovens e menos jovens sobre a situação do país, apercebo-me que a estratégia dos média, de levarem as pessoas a verem como uma inevitabilidade as medidas governamentais, está a confundi-los.

È preciso poupar, esta é a palavra de ordem que mais ouço, ouço das pessoas na rua, no transporte publico, no café, no hipermercado e na loja do bairro.

O cidadão comum, refere como exemplo os comentários nos canais de televisão, onde sistematicamente toda a direita aparece a fazer comentários a favor das medidas deste Governo, do professor Marcelo ao Mira Amaral, do Marques Mendes ao Santana Lopes, todos ali vão despejar ideologia situacionista muitas vezes disfarçada de crítica.

Se a estas criaturas acrescentarmos outras, os economistas comentadores, ( muitos dos quais passaram pelos governos dos últimos 35 anos, onde ocuparam cargos públicos importantes tendo por isso fortes responsabilidades na situação a que o pais chegou,) aparecerem agora nos canais de televisão a pedir sacrifícios e paciência, vivendo muitos deles de reformas milionárias.

É com estes dois tipos de criaturas que está a ser formatada a opinião pública (há dias até ouvi um que se Arrojou a dizer que só as ditaduras podem tirar o País da situação a que o conduziram). Esta é uma formatação de mentalidades que faz inveja ao livro Nineteen Eigthy Four("1984"), de George Orwell.

Não é pois de estranhar as hesitações na resposta à pergunta, “Vais fazer greve no dia 24 de Novembro de 2011”?

Compete-nos a nós militantes sociais, políticos com outra visão e soluções alternativas plausíveis e representantes de trabalhadores, esclarecer, afastar as hesitações e mobilizar todos para a greve geral.

Há razões para os trabalhadores fazerem greve geral, pois não podemos nem devemos ficar indiferentes ao aumento do IVA em bens essenciais, ao aumento dos transportes públicos, ao corte de 50% nos subsídios de Natal deste ano, ao corte total dos subsídios dos anos de 2012 e 2013, mesmo que só para a função publica

Há razões para pequenos e médios comerciantes, bem como os pequenos e médios empresários aderirem à greve geral, eles vão ser direta ou indiretamente vítimas desta política, pois quando o IVA aumenta as compras reduzem-se, quando não há dinheiro não se compra, quando não se compra não se produz, quando não se produz aumenta o desemprego e as empresas podem mesmo fechar.

Há razões para a população e os trabalhadores fazerem greve geral quando vemos cortes na saúde que podem levar ao cancelamento de transplantes e consequentemente à morte; encerramento de serviços de saúde; restrição nos serviços de hemodiálise; não abertura de hospitais de retaguarda ou de cuidados continuados, como por exemplo em Alhos Vedros, onde um serviço destes criado de raiz pela Santa Casa da Misericórdia está impedido de abrir por falta de apoio governamental.

Há razões para os trabalhadores fazerem greve geral quando o Governo aumenta as horas de trabalho anuais de 1848(as mais altas da Europa) para as 1976 horas ano, a que se podem juntar mais 40fruto da possível eliminação de feriados. Na Autoeuropa, como em muitas outras empresas, sem um forte aumento de encomendas, a aplicação destas medidas significaria centenas de despedimentos.

Este governo não percebe, ou na ânsia de satisfazer o sistema financeiro não quer perceber, que o problema da produtividade em Portugal não se resolve com o aumento das horas de trabalho.

Um trabalhador atado a um tear de meados do século XX pode lá estar 24 horas por dia que nunca vai ter a mesma produtividade que um trabalhador a trabalhar 8 horas com um tear moderno e computorizado e porque Governo e patrões não percebem isto merecem a greve geral.

Existem pois muitas razões para no próximo dia 24 de Novembro, comerciantes, pequenos empresários, jovens, desempregados, reformados e trabalhadores em geral fazerem greve e na sequência da greve, manifestarem-se em todo o País contra estas medidas.

António Chora
Sobre o/a autor(a)

António Chora

Dirigente do Bloco de Esquerda. Coordenador da CT da Volkswagen AutoEuropa. Deputado municipal no concelho da Moita.
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