É essencial abordar de maneira crítica a notícia que menciona a detenção de uma "guarda brasileira com passaporte português" no Reino Unido por envolvimento sexual com um recluso. A notícia, publicada pelo JN, desencadeia uma série de questões muito sérias em torno da nacionalidade, identidade e da problemática ressonância das relações coloniais. O título é emblemático de uma narrativa que perpetua divisões artificiais e hierarquias sociais. A sugestão de que alguém com passaporte português não é completamente português é absurda e perpetua o colonialismo residual, sugerindo que uma segunda nacionalidade pode ser usada para diminuir a identidade plena de um indivíduo. Isso não só desconsidera a realidade de milhões de pessoas que têm dupla nacionalidade, mas também alimenta o preconceito, ao invés de promover a inclusão, que está muito longe de ser plena. A noção assustadora de que a cidadania deve ser herdada ou de que há "portugueses de raça" é não apenas incorreta, mas odiosa. Esses conceitos são utilizados para dividir e hierarquizar pessoas, perpetuando uma visão de mundo ultrapassada que associa valor humano à origem nacional ou étnica. Campanhas que promovem tais ideias marginalizam comunidades e reforçam estereótipos prejudiciais e criam um ambiente propício a discursos de ódio. A influência de partidos de extrema direita tem sido nefasta. Propostas, como em França, para restringir o acesso a certos empregos com base na dupla nacionalidade francesa, são inaceitáveis e incompatíveis com os princípios de igualdade e justiça social. A tentativa de utilizar a nacionalidade como uma ferramenta para estigmatizar e marginalizar grupos é uma estratégia política perigosa que deve ser confrontada e desafiada. Em última análise, a notícia da detenção da “guarda brasileira com passaporte português” no Reino Unido não é apenas um evento isolado, mas reflexo de questões profundas e sistémicas relacionadas com a nacionalidade, identidade e poder. É dever de todos destacar e contestar essas narrativas que perpetuam desigualdades e preconceitos. Devemos trabalhar para construir uma sociedade onde todas as pessoas, independentemente de sua nacionalidade ou origem, sejam tratadas com dignidade e respeito igualitário.
