Dentro de uma semana estarão proclamados os candidatos presidenciais do PS e do PSD. É um desenlace fulgurante depois de tanta reflexão, tão cuidada que exigiu o anúncio público de cada uma das suas fases: começou o candidato pela ponderação sobre se devia ponderar, seguiu-se aquela etapa do “ainda bem que me faz essa pergunta, continuo a ponderar”, pelo meio veio a demonstração de que sou tão ponderado, como deve ser um presidente, mas ainda não decidi, atravessa-me ainda a dilaceração da alma entre o sim e o não, depois naturalmente de ter dito que não digo que sim nem que não, havendo ainda lugar a alguma reclamação orgulhosa do meu direito de cidadão, posso ser candidato ao que quiser, como se precisasse de ser explicado. E, pronto, tudo desaba na confirmação de candidatura que o país já dá por certo há anos ou longos meses. Foi um entretenimento e peras.
Ora, não é de esperar que Marques Mendes ou Vitorino desencadeiem uma vaga de fundo de entusiasmo partidário. Não são Marcelo Rebelo de Sousa nem Jorge Sampaio e a diferença salta à vista. Assim, não se espera que qualquer deles seja presidente; de facto, a sua possibilidade de chegarem à segunda volta é diminuta e creio que o sabem melhor do que ninguém. São candidatos para perder. Têm contra eles o facto de serem embaixadores do antigo regime em tempo em que se espera um presidente independente e falta-lhes o fulgor de propostas para o país. Foi por isso que se apresentam sem terem partilhado com o povo mais do que a sua própria figuração, pelo que o que querem fazer é mais misterioso do que a sua indómita vontade de ocuparem o palácio de Belém.
Além do mais, começada a longa saga da sua ponderação, ficaram presos no entretenimento e, para se pouparem ao ridículo da continuação dessa novela, acabam por se apresentar no início do ano – Marcelo, seguro de si, apresentou-se no final do ano. A razão da diferença é óbvia, estes candidatos olham para a sua sombra e têm receio de alternativas que surjam nos seus espaços políticos: Marques Mendes por saber que há candidaturas mais fortes na área do PSD, e Vitorino por ter por certo que uma candidatura independente poderia juntar forças na esquerda e ultrapassá-lo. Em qualquer caso, não deixa de ser espantoso que na primeira eleição desde 1986 que vai ter uma segunda volta, estes candidatos possam nem sequer ter a ambição de lá chegarem.
Este texto é parte da intervenção de Francisco Louçã no podcast “Um pouco mais de azul”, onde também participam o jornalista Fernando Alves e a poeta Rita Taborda Duarte. O podcast completo aqui
